Pode ter passado despercebido a muitas leitoras e leitores, mas a mais recente decisão da Universidade do Minho de lançar mais de cem cursos de pós-graduação, a partir do próximo ano letivo, é uma das melhores notícias para o mundo empresarial e para a sociedade em geral.
O projeto, destinado a atualizar a e a requalificar competências de quem já está no mercado de trabalho, foi desenhado com o tecido empresarial da região, o que já é de si, é um sinal positivo, tendo como suporte o financiamento via Plano de Recuperação e Resiliência. O próprio nome do programa – “Aliança de Pós Graduação - Competências para o Futuro” – é feliz na medida em que representa um dos pilares da visão integrada que deve nortear a governação das cidades. Para ser preciso, serão 112 cursos, a lançar gradualmente, até 2026, em domínios tão diversos como “Gestão e Inovação empresarial”, “Arquitetura e Ambiente construído”, Comunicação, Cultura, Sociedade e Inclusão”, “Engenharia e Indústria Transformadora”, “Proteção Social e Integração”, “Saúde e bem estar”; “Sustentabilidade Ambiental e gestão do território” e “Transição Digital”. Ao refletir sobre as áreas de formação apresentadas, fica, no entanto, um sabor amargo, por ver que um dos pilares fundamentais para uma boa governação não aparece e no entanto, os empresários precisam dela como de pão para boca. Ou seja, no domínio da gestão e Inovação empresarial deveria caber a componente da Comunicação e da Informação, fundamentais para o sucesso empresarial. Num recente webinar, promovido pela Universidade Católica, em Lisboa, a que tive acesso, um dos seus oradores projetava as cinco tendências de gestão para os próximos anos. A sua conferência foi excitante, curta quanto baste e terminou ao fim da exibição de 38 slides, com a matriz de sucesso para o que, em seu atender, marca já hoje e marcará de forma significativa o futuro a curto e médio prazo dos gestores: informação. Tão simples quanto isso. Para além desta componente, há um outro aspeto neste projeto demonstrativo de como os processos em Portugal são lentos, sempre que se exige Mudança de comportamentos e de atitude das universidades portuguesas. Falo da expressão máxima das Comunidades do Conhecimento. Neste capítulo, há muito caminho para desbravar e muita mentalidade para mudar, a começar por aqueles que governam, a partir dos seus gabinetes, as estruturas de enino superior. Veja-se como esta chamada do tecido económico é tratada nos restantes países comunitários e talvez percebêssemos como temos muito que aprender, a começar pelos vizinhos espanhóis. A notícia da democraticidade do acesso ao ensino superior surgiu há cerca de um mês, em Madrid. O governo espanhol vai mexer na Lei Orgânica das Universidades com a qual pretende estender a formação superior aos cidadãos, com mais de 40 anos, que poderão aceder a formação universitária nas áreas da sua experiência profissional, sem serem titulares de uma licenciatura. Ao argumento de muitas equipas reitorais em Portugal, que é preciso fazer uma seleção à entrada para manter uma “certa qualidade” nos formandos, contrapõem-se aquilo que é óbvio: ao manterem um grau de exigência de licenciatura, com devidas exceções, à frequência de cursos como aqueles que aqui foram enunciadas, as próprias universidades criam barreiras, à sua própria aprendizagem a partir da experiência adquirida por anos a fio por inúmeros cidadãos, limitando a cultura do Conhecimento que deveria ser transversal e inclusiva. Ora, o que é exceção, deveria ser norma. Eu próprio faço parte da exceção e só assim pude frequentar um MBA, com especialização em PME, numa Universidade, sem ser titular de uma licenciatura, do mesmo modo que fui convidado para organizar um curso orientado para as PME sobre Gestão de Risco, na Escola de Negócios de outra universidade. Gostaria muito de ver qualquer cidadão a ter a oportunidade que eu tive, a partir da análise curricular e da experiência acumulada. A Aliança agora formada em Braga tem a obrigação de olhar para o futuro e perceber que há um enorme potencial para o crescimento do ensino superior. Eu próprio estou desejoso de regressar à universidade, depois de ver as minhas três filhas concluírem os respetivos cursos. Lá estarei, com a certeza de que a idade não pesa na hora de escolher o Conhecimento como parceiro.
Autor: Paulo Sousa