O mundo acompanhou com algum interesse as notícias que foram circulando nos mais variados meios de comunicação social, primeiro relativamente ao desaparecimento de uma jovem americana de 22 anos (Gabby Petito) no final do passado mês de agosto e depois ao homicídio de que foi vítima. Gabby e o namorado (Laundrue) eram youtubers e estavam a efetuar uma viagem de caravana pelos parques naturais dos EUA, quando a jovem foi dada como desaparecida, tendo sido encontrado o seu corpo posteriormente e concluindo-se que terá sido assassinada. Neste momento ainda decorrem as buscas para encontrar o seu namorado, também desaparecido ou foragido, na medida em que é apontado como suspeito da morte da namorada.
Numa das notícias televisivas que tive oportunidade de ver sobre o assunto, inopinadamente, na parte final da peça, os autores davam conta que este tipo de desaparecimentos e homicídios em que as vítimas eram mulheres brancas, despertavam sempre muito mais interesse por parte dos mass media, do que casos semelhantes em que as vítimas não eram caucasianas. A teoria parecia ser: se a vítima for uma mulher de raça branca, os media prestam grande atenção. Já se for negra ou hispânica, ninguém quer saber.
Muito recentemente, e também nos EUA, foi feita a atribuição dos prémios Emmy (que premeiam as séries e filmes para TV) deste ano. De imediato, em muitas das notícias que vieram a público, dava-se nota que a esmagadora maioria dos vencedores dos prémios eram de raça branca, saindo de mãos a abanar os atores e atrizes de outras raças. De facto, para mim, ser ou não ser racista é uma questão de princípios e valores, não precisa de estar constantemente enfatizada em todas as dimensões da nossa vida social. Não ser racista não é estar sempre a verificar se os vencedores dos Emmys, ou qualquer outro prémio ou distinção, são ou não são brancos. Os prémios, as distinções, premeiam talento, esforço, abnegação, desempenho. É absurdo, do meu ponto de vista, pretender ou atribuir prémios em função da cor da pele. Pode dizer-se que também são atribuídos prémios em função do género. Contudo, direi que homens e mulheres fazem parte da sociedade, sejam eles brancos, negros ou de qualquer outra raça. O tipo de análise que hoje é feito pelos mass media, em vez de ajudar a combater o racismo, agudiza e perpetua o fenómeno.
A partir de determinada altura passamos a pensar em termos de branco e negro e isso não faz sentido e não é saudável. Quando escuto um trecho musical, gosto ou não gosto, independentemente do ou da cantora. Gosto muito de atores e atrizes negras (Morgan Freeman, Denzel Washington, Whoopi Goldberg, entre outros), como gosto de outros de raças diferentes. Aliás, para mim, dos seres humanos mais notáveis que a humanidade já produziu, coloco à cabeça Ghandi e Mandela e não são propriamente brancos.
Por via da globalização, que é um processo imparável, a miscigenação da população humana é uma questão de prazo. Mais cedo ou mais tarde, por força do relacionamento inter-racial, cada vez haverá mais uniões entre pessoas de raças diferentes e isso acontece mais rapidamente nas regiões do globo que hoje já constituem um melting pot racial: Europa Ocidental e América do Norte. Talvez por isso mesmo, também é nestas regiões que se sentem mais tensões e onde a idiotice à volta das raças campeia.
Devemos pensar nas pessoas e não na cor da pele das pessoas, do género das pessoas ou da orientação sexual das pessoas.
Agora uma coisa é certa: os media e as redes sociais prestam um péssimo serviço à sociedade quando sublimam as questões raciais e de género, de forma perfeitamente descabida, artificial e forçada, como nos exemplos referidos, lançando suspeições e contribuindo para disseminar também as sementes nefastas do ódio e do racismo. Termino citando Nelson Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor da sua pele, da sua origem ou da sua religião. As pessoas podem aprender a odiar e, se podem aprender a odiar, pode-se ensiná-las a aprender a amar. O amor chega mais naturalmente ao coração humano que o contrário”.
Autor: Fernando Viana