Estamos a viver em cima de um monturo. Há esterco moral por todo o lado. Os escândalos sexuais quer de assédio quer de consumação vindos de Hollywood são mais que muitos, os relatos de mortes a tiro ou às facadas dentro de estabelecimentos comerciais, escolas e até igrejas deixam-nos de alma dorida; a fuga aos impostos através de paraísos fiscais mostram-nos que os grandes senhores do mundo se apropriam deles para fugir aos impostos.
Só o pequeno tem obrigações fiscais porque os que sabem e podem fugir a esta obrigação social, fazem da consciência um morto e dos valores de cidadania uma ironia. Burlas e mais burlas surgem aqui e acolá como epidemia sem controlo sanitário. E a gente espanta e já não sabe em quem há de acreditar, já não sabe onde depositar as suas parcas economias, já não encontra lugar limpo onde se possa sentar sossegadamente e dizer, aqui estou seguro.
Não há trono que não tenha perna manca. Soube-se agora que até a rainha de Inglaterra Isabel II, tem os seus dinheiros num paraíso fiscal, para fugir, como é evidente, a pagar na sua pátria os juros dos depósitos. E este trono abana mas não cai. E não cai porque para baixo dele existem outros tronos ainda mais mancos que o seu. E o povo que paga os seus impostos, que cumpre as leis por eles criadas e vigiadas, ficam a olhar para o cimo da pirâmide social e a dizer, afinal continuamos a ser servos da gleba como no feudalismo. A eira que nos tocou é quem paga a estes senhores.
Arroteamos a pequena parcela e pagamos pelo pouco que dela tiramos para sustentar as opulências dos nababos. O pior é que parece estarmo-nos a habituar ao cheiro deste monturo. Não tarda nada que a pestilência se torna tão habitual que o perfume das flores se tornará algo estranho. Só outro dilúvio limpava este balneário.
Receio mesmo que até as suas águas seriam poucas para lavar todo este esterco. Espero que a comunicação social não se deixe contaminar pela pestilência; alguma já se vai calando, outra ainda resiste. Só a comunicação social pode e deve ser juiz porque, ao noticiar, se transforma em sociedade: descobre os podres, os fingimentos, os abusos de poder, as sedições e põe a claro as nódoas de que tem conhecimento. Calar não é prudência, é cobardia. A comunicação social deve saber que além de prestar este serviço púbico, deve igualmente ter a noção de que presta uma obra de misericórdia. Quem defende os mais fracos, os mais oprimidos, os mais desprotegidos, os mais enganados de toda esta sociedade de abusadores, cumpre um desígnio sagrado.
Por isso é que eles a odeiam tanto. Quem são estes enganados? Somos todos nós. O jornalismo investigação, o jornalismo noticioso, o jornalismo reportagem, quando sem medo, é a consciência de toda uma sociedade e não pode, por isso, subtrair-se a estes princípios, sob pena de se tornar num mísero folheto em transição para a pasquinada. Quem defende alguém inocente torna-se “advogado” de misericórdia. E tanto mais quanto maior for o necessitado.
Autor: Paulo Fafe
Até a rainha de Inglaterra!
DM
13 novembro 2017