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As redes sociais e a comunicação com o poder autárquico

As redes sociais como comunicação ou instrumento de interação do cidadão com o poder político ou do poder político com o cidadão, têm um papel importante mas apesar de tudo relativo.

Se não há poder político que possa ignorar o papel das redes sociais, também é verdade que não devem ser híper valorizadas e constituírem a mais importante relação de comunicação entre as populações e os seus representantes.

Num estado de direito democrático, com instituições políticas consolidadas do ponto de vista democrático, as redes sociais nunca podem substituir a comunicação oficial com o poder legitimado sob pena da sua menorização.

Então nas autarquias, onde relação entre os governantes e governados é mais próxima, esta subalternização poderá vir a ser mais acentuada por este fator.

Em Braga, o uso das redes sociais por parte da população para exprimirem os seus pontos de vista relativamente à vida do seu concelho é, felizmente muito usual, tendo até um Presidente de Câmara que frequentemente usa as redes sociais na interação com o seus munícipes, chegando várias vezes a fazê-lo a nível pessoal.

Em Braga – confesso que não sei se o mesmo se passa com frequência em outros concelhos – há imensos fóruns, grupos de discussão, temáticos ou gerais, que visam a vida da cidade, uns com mais participantes, outros com menos.

É importante que o poder executivo esteja a par do que lá se diz e por vezes até intervenha quando necessário. Seria até perfeitamente estúpido não o fazer.

No entanto nenhum cidadão deverá entender que qualquer pedido de informação, reclamação, queixa ou elogio sobre a atividade autárquica deverá ser feito apenas com a colocação dos seus comentários nas redes sociais. É importante a comunicação com a autarquia para qualquer assunto concreto siga a vida oficial e é a esta que o poder executivo municipal tem obrigação de responder.

O executivo municipal não tem nenhuma obrigação de ler o que é postado e muito menos de responder ao que lá é escrito, algo que não se passa se o assunto fôr colocado diretamente pelo cidadão com o poder autárquico.

Um legítimo interesse, ao qual deverá ser dado resposta, só pode ser considerado como legítimo – e não muitas vezes como show off, com a instrumentalização pública de alguma questão – se o particular o colocar diretamente e por via oficial à administração autárquica. E em Braga, desde meios on line, pessoalmente em audiência ou reuniões, bem como através de papel não faltam meios de comunicação com o executivo.

O que não quer dizer que o cidadão, no uso da sua liberdade, não possa também colocar nas redes sociais qualquer questão mas que terá sempre um papel secundário face à resolução do problema concreto que o aflige.

Além disso, as redes sociais dão muitas vezes uma ideia falsa da realidade. Um cidadão, revoltado com algum tipo de atuação autárquica muitas vezes desata a postar, sendo secundado por alguns ou até muitos outros a apoiar ou não. Mas o facto de isso acontecer, não significa que a generalidade das mesmas pessoas esteja também revoltada ou que o assunto incomode a maioria da população. Revoltado, de certeza, estará quem se exprimiu, mas só a sua colocação diretamente aos órgãos autárquicos poderá aquilatar se o seu assunto é direto, concreto e legítimo.

A importância das opiniões de cada cidadão, colocada isoladamente ou em grupo nas redes sociais, nunca poderá ser menosprezada, mas a maneira como o fazem é que poderá aferir do seu verdadeiro interesse quando a ela se refere.


Autor: Joaquim Barbosa
DM

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11 dezembro 2019