1.Errare humanum est, diz um conhecido provérbio latino. Anexa à condição humana está a possibilidade de errar. O ser humano é falível. Considerar-se inerrável é uma presunção que a prática do dia a dia se encarrega de desmentir. Necessário é que cada um reconheça os próprios erros e faça um esforço por errar cada vez menos. Corrija o que pode. Indemnize, na medida do possível, pessoas ou instituições que lesou com os seus erros. Tenha a humildade suficiente para apresentar um pedido de desculpas.
2.Há erros verdadeiros e erros que só existem na imaginação de quem os deteta. Pode acontecer de se classificar como erro o que, de facto, não foi erro nenhum.
Não há como proceder sempre com equilíbrio e ter cuidado com os juízos que se fazem e com as acusações que se formulam.
Quando se trata de apreciar comportamentos há quem use uma malha demasiado apertada e quem utilize uma malha excessivamente larga. Pessoas há que em tudo veem erro e pessoas para quem tudo é normal, tudo é natural não vendo mal nenhum onde o mal efetivamente existe. Depende das conveniências.
3.O erro não priva ninguém da dignidade inerente a todo o ser humano. Pode acontecer é de não ter agido de harmonia com essa dignidade e de não a ter sabido respeitar em si e nos outros.
Disse o Papa Francisco em 20 de março de 2019: «Para Jesus, antes do pecado, vem o pecador. No coração de Deus, eu, tu cada um de nós vem em primeiro lugar; vem antes dos erros, das normas, dos juízos e das nossas quedas.
Peçamos a graça dum olhar semelhante ao de Jesus; peçamos para ter o enquadramento cristão da vida: nele, antes do pecado, olhamos com amor o pecador; antes do erro, o transviado; antes do caso, a pessoa».
O erro deve ser combatido e a pessoa que erra, respeitada. Toda a pessoa: seja analfabeta ou carregada de títulos.
4.Há que ser compreensivo para com a pessoa que erra. Mas compreensão não significa aprovação. Não significa, também, que se tenha de considerar correto o que efetivamente está errado.
5.O respeito devido à pessoa que erra não a dispensa de assumir as suas responsabilidades, de suportar as consequências do erro, de pagar pelo mal que fez.
Se o erro envolve bens materiais, é relativamente fácil compensar a pessoa lesada. Se o erro se relaciona com a dignidade de alguém, com o seu bom nome e a sua boa fama, é mais difícil. Mas o facto de ser difícil não significa que se não faça o possível.
A propósito, vem-me à memória o que se conta ter passado com S. Filipe de Néri. A uma senhora que se confessou de ter caluniado e difamado, mandou que, como penitência, depenasse uma galinha, soltasse as penas ao vento e depois as recolhesse todas. Claro que não foi possível, como não é possível recolher as conversas maldosas que se têm.
Há erros que não deveriam prescrever, como não deveria ser possível, com dinheiro, limpar registos criminais.
6.Todas as pessoas devem ser responsabilizadas pelos seus erros. Quer se trate de pessoas de colarinho branco quer de desencamisados. Há atos que naqueles até se podem revestir de circunstâncias agravantes. Furtar por necessidade e furtar pela ambição de ter cada vez mais devem ser apreciados de maneira diferente.
7.Antes de denunciar os erros dos outros o bom senso recomenda que tenhamos o cuidado de olhar para nós mesmos. Isto de alertar para os erros dos outros e de ignorar os próprios… Ser um incoerente frei Tomás não prestigia ninguém. Isto de apregoar a Doutrina Social da Igreja e não a cumprir…
8.Quando se trata de denunciar erros há que prestar atenção à forma como se denuncia: ao que se diz, a quem, onde, quando, como. Os cristãos têm no Evangelho normas sobre a prática da correção fraterna.
Autor: Silva Araújo