Todos nos interrogamos como vai ser o mundo do trabalho na próxima-presente época tecnológica. Não há respostas, apenas uns palpites que se pautam por prognósticos mais ou menos velados.
Parece que ninguém se importa pelo mediato sem verem que o imediato é já hoje com aquela acutilância que tem o cariz do inevitável. A tecnologia moderna chama-se inteligência artificial: bonecas ou homens robotizados que falam e respondem com uma semelhança humana que começa a assustar.
Mas se o homem pode ser substituído pelos robôs modernos, e se as tarefas industriais ou caseiras podem ser realizadas pelas máquinas inteligentes, se as comunicações e os transportes podem vir a automatizar-se, a pergunta é o que vai fazer o homem? Desempregado com certeza.
Mas a par deste desemprego, a produção vai ser tanta que iremos chegar ao ponto de nadarmos numa fartura que nos afogará. As teorias económico-financeiras e as práticas empresariais, os investimentos e lucro, todo o cálculo de preços das coisas terão de ser repensados.
As relações de trabalho, as remunerações, as progressões na carreira, as aposentações, serão para meia dúzia daqueles que trabalharão,os mesmos que saberão programar e manusear os comandos robóticos inteligentes.
O resto das gentes não terão trabalho mas têm que viver e viver implica ter dinheiro; então esta inteligência artificial terá de lhes atribuir um vencimento de ócio, vencimento que chegue para se divertir e esperar pelo divertimento seguinte.
Este “paraíso terrestre” vai criar um tédio de vida que fará de nós humanos uns pândegos neste planeta. Seremos comandados pela inteligência artificial que, segundo os seus programas, nos vão dirigir o trânsito, informar das nossas consultas médicas, preparar encontros de negócios, mandar o automóvel autónomo à revisão e quando necessário atestará o depósito; seremos informados através de um noticiário programado a bel prazer de seus programadores.
Vamos ter um modelo de pensamento moldado por este noticiário, o que faz da nossa introspeção um pensamento dependente, sem episteme; então, com um pensamento estereotipado seremos nós os robôs dos robôs da inteligência artificial; isto é, em vez de sermos nós a programá-lo é ele a programar-nos a nós.
A manipulação do pensamento vai ser fácil; sem darmos por isso, estaremos perante uma ditadura behaviorística, tendo como doutrinador este pensamento inteligente estereotipado, que nos imporá os comportamentos?
A inteligência robótica vai entrar de mansinho, como utilidade que nos alivia do trabalho e, assim, com pezinhos de lã, a pouco e pouco, como moléstia silenciosa, tomará conta de nós, moldará os nossos gostos, reduzir-nos-á a pucarinhos de barro moldado por este hábil oleiro?
Mas nós somos livres de pensar, de divergir, de colocar questões a esta inteligência? Não seremos nós, na plenitude de um ser único e irrepetível, capazes de a vencermos com o nosso raciocínio? Se pudemos vencer os nossos instintos e transformar-nos em seres racionais, também seremos capazes de vencer a hegemonia dum pensamento programado.
É verdade, mas como pode alguém divergir, pensar por si, assumir-se como ser, quando, na base do pensamento individual, existe uma informação única, formatada para uma conclusão unânime? Tantas perguntas e uma só resposta. O homem será sempre senhor do seu pensamento enquanto nas escolas se ensinarem as humanidades.
A ciência pode ir a reboque mas a pedagogia da escola humanista grega, municia os alunos de faculdades criadoras, de afirmação subjetiva sobre todas as circunstâncias, sejam políticas, ideológicas ou científicas. Esta escola cria passarinhos sem gaiola.
Semelhante a eles, esta educação há de negar e surpreender todos os desejos e propensões para um seguimento dócil a toda e qualquer imposição da inteligência artificial. Eis o baluarte. Só o vencerão se transformar a escola numa oficina apenas tecnológica inteligente em vez dum lugar de pensamento.
Autor: Paulo Fafe
As perguntas
DM
7 maio 2018