1 – De repente, por motivos muitos e variados, Portugal ficou na moda. Na moda turística. Dos quatro cantos do mundo começaram a chegar turistas pobres, turistas ricos, turistas remediados que, em maior ou menor quantidade, cá vão deixando os seus dólares, as suas libras, os seus euros e até as mais exóticas moedas.
A sonolenta indústria hoteleira despertou. Os hotéis encheram-se, os «hostals» surgiram, o alojamento local (conceito novo) explodiu. E ainda bem. Para responder ao novo desafio, as cidades renovam-se: velhas casas são recuperadas, fachadas sujas são lavadas, o desbotado é pintado, a escuridão ilumina-se. É uma generalizada renovação urbana que o turismo exigiu e que o turismo – e só ele, com as suas divisas – possibilitou.
Portugal alinda-se e o Estado agradece a ajuda às suas contas cronicamente deficitárias.
2 – Não tardou que surgissem os adversários desta ressurreição! Que as cidades estavam a ficar descaracterizadas. Que os habitantes estavam a ser escorraçados do «centro» ou da «baixa» (que estavam desertos ou quase). Que inquilinos estavam a ser despejados a eito. Que, enfim, o turismo era um flagelo social.
Dos benefícios, da renovação, da riqueza que traz e do dinheiro que deixa o turismo – nem uma palavra destes conservadores do castiço panorama de casas decrépitas e fachadas fuliginosas.
3 – Paralelamente a esta rabugice do Restelo, há um ruído de fundo a exigir um Estado mais pródigo, de bolsa mais aberta, que reponha o tempo de serviço congelado, que decrete o aumento do salário mínimo, que aumente salários e pensões de funcionários públicos, que re-equipe técnica e humanamente hospitais e tribunais, etc, etc. Tudo muito certo, muito justo e muito urgente. Mas tudo a custar dinheiro, muito dinheiro (desse que o turismo deixa cá ficar).
O que é curioso é que nenhum reclamante se preocupa com a fonte monetária para satisfazer tudo quanto reclamam (ou que «exigem» – como eles dizem).
4 – Mas mais curiosa ainda é a origem ideológica da rabugice anti-turismo e da exigência de mais despesa pública – é a mesma. Os mesmos que tanto desfazem no turismo (e no seu rendimento) são os mesmíssimos que fazem (ou querem fazer) a despesa do Estado, seja ele justa ou injusta.
Esta gente gosta muito de comer omeletes. Mas sem partir os ovos. Só que a vida é como é e não como eles a desejariam. Ou partem os ovos ou ficam sem omeletes.
Nota: por decisão do autor, este texto não obedece ao impropriamente chamado acordo ortográfico.
Autor: M. Moura Pacheco