A educação, como já o dissemos muitas vezes, é um facto exclusivamente humano. Enquanto se domesticam os animais, educa-se o homem. À educação compete promover a personalidade humana ou construir integralmente o homem em todas as suas dimensões. Educar uma criança é, primordialmente, desenvolver na sua mente o conhecimento das finalidades e dos objetivos da sua vida. Quando essa educação é enviesada ou desprovida de algumas variáveis fundamentais, as personalidades ficam sempre truncadas e com lacunas que vão faltar na sua verdadeira essência. E as consequências sociais são enormes e catastróficas quando tais indivíduos assumem cargos de responsabilidade na sociedade. Neste contexto, as incongruências vêm ao de cima. Por um lado, esses responsáveis arrogam-se como paladinos dos valores fundamentais do homem, ou seja, da ética, da moral, da dignidade da pessoa humana, da vida e do seu respeito integral. Por outro lado, fazem propostas, projetos de lei e até leis que violam esses mesmos valores e princípios fundamentais. Defendem a vida e a dignidade humanas quando isso favorece os seus interesses pessoais ou partidários. Porém, quando estes mesmos ideais correm o risco de ser beliscados, eles colocam-se imediatamente do outro lado da barricada. Então, lá vem o aligeiramento na análise da corrupção, do branqueamento de capitais e, ainda mais grave, na defesa da despenalização do aborto ou da eutanásia. Confundem-se os conceitos, descontextualizam-se os valores e aviva-se a duplicidade de carácter.
Quando falha a verdadeira formação da pessoa humana, tudo falha. Os pais e os sistemas educativos, muitas vezes, não dão o adequado contributo para essa formação integral humana. Então, temos personalidades deformadas e sociedades mórbidas. Os diversos tipos de educador devem ajudar o educando, não só no campo do domínio dos parâmetros dos programas educativos, também também no desenvolvimento e interiorização dos princípios básicos da ética e da moral. Estes princípios universais estão na base de todos preceitos sociais que devem orientar a conduta de todo o ser humano. Sem eles, não há relação humana que perdure. Estas normas devem ser desenvolvidas na criança, em primeiro lugar, pela família que é o alicerce da sociedade e a primeira instituição educativa. A família não pode alienar ou transferir esta sua prerrogativa para qualquer outra entidade. Muitas das maleitas sociais existentes nas comunidades modernas são devidas a uma educação deficitária ou distorcida, facultada já no seio familiar. A família não pode pedir à escola ou a qualquer outra instituição que transmita as normas educativas que só ela pode e deve dar. A escola exerce uma função educativa apenas complementar, nunca podendo substituir, na totalidade, a ação específica familiar.
Os pais são os primeiros e únicos responsáveis pela entrada da criança no mundo e, por inerência, pela sua educação de base. É um direito (e um dever) que lhes assiste imposto pela própria natureza humana. O Estado (ou outra entidade) nunca poderá manifestar e viver os sentimentos e os afetos que entram naquela realidade intrínseca à própria natureza humana e que se chama amor paternal. Se os pais, para além do tempo que gastam na luta pela vida, consumirem, em futilidades, a maior parte do que lhes resta, então não encontrarão tempo livre suficiente ou necessário para falarem e conviverem com os filhos. Deste modo, poderão amanhã, ao ver frustradas as suas melhores esperanças, sentir-se os primeiros culpados por toda a vida desviante dos filhos.
Autor: Artur Gonçalves Fernandes
As incongruências educativas e as suas graves consequências pessoais e sociais
DM
31 maio 2018