Não é fácil parar a história. Diz-se que o tempo não volta atrás. Como se não bastasse, tudo sucede demasiado rápido. Nos Estados Unidos as armas não tomam conta das pessoas, apenas dos lobbies.
Não protegem o indivíduo, antes despertam nele o que de mais perverso existe no ser humano. Servem para matar terceiros e depois ajudar a cometer suicídio. A guerra é interna. Mas, no país das liberdadesseria uma ditadura,espécie deblasfémia, acabar, ao fim ao cabo, com a pseudoliberdadede ter a sua própria arma.
A democracia tem os seus perigos, quanto mais não seja o da incoerência. Um exemplo concreto, não necessariamente passado nos Estados Unidos, mas no festival da eurovisão. Depois da vitória de Salvador Sobral acreditei, e creio que o próprio também, que a música iria mexer com a consciência coletiva para voltar a ser música e não ruído. Mas iludi-me ou desiludi-me, porque, afinal, acabou por vencer o ruído.
A pergunta que me apraz fazer é: pode o mesmo público (supondo que de há um ano para cá estamos todos, ou quase todos, ainda vivos) dar a vitória a uma música e, um ano depois, optar pelo ruído? It’s democracy, stupid.A conclusão a que chego é que a democracia é incoerente. Não necessariamente perigosa, ou, afinal, talvez sim, se verificarmos que aquilo ou aquele(s) em que(m) votamos, acabam por (des)iludir.
Não tem de ser apenas na música. Basta vermos o exemplo nada exemplar do desporto, mais concretamente, os últimos acontecimentos ligados ao clube de Alvalade… Embora não seja sportinguista, ainda que tendo nascido e vivido em Alvalade, sinto mágoa e compaixão pelos jogadores e pelos sócios que votaram (sabe-se bem em quê) e que hoje estão, como se compreende, arrependidos.
O voto pode ser também político, muitas vezes ajudado pela mão amigae/ou invisível daqueles que contabilizam mais votos do que o número de eleitores que compareceram nas urnas. Uma espécie de milagre de multiplicação dos votos. Afinal, como dizia Kissinger, entre outros (não é que eu concorde, naturalmente): ‘a democracia é um bem precisoso demais para ser deixado na mão do povo’.
É humano a democracia equivocar-se e eleger a pessoa que tinha tudo para dar certo, mas que acabou para fazer tudo certo para dar errado. É humano perceber que qualquer dia não podemos entrar num café porque os animais terão tão ou mais direito de estar sentados à mesa como uma criança com asma que se eforça por almoçar em paz.
É humano perceber que aqueles em quem votámos estão mais preocupados em promover a morte (a eutanásia é fixee moderma: faz-se lá fora, porque é que não a fazemos cá também?) que em cuidar da vida… leis e mais leis… O diabo está nos detalhes, como é conhecido.
O Brexitpoderá expressar a vontade da maioria, mas se a ‘vidente’ (muitoviral, como agora se diz, nas redes sociais) que previu o início do fim da União Europeia estiver certa, então mais exitsvirão… Trata-se de uma questão de tempo.
A democracia pode ser incoerente, mas não há sistemas perfeitos… O problema não é a democracia, mas a instrução das pessoas que a compõem, ou seja, ela é o produto do que de bom ou de mau o cidadão tem. Se muitos indivíduos só veem a realidade a preto e branco, é bem provável que não elejam um candidato que se veste de azul… ou de verde, ou outra cor qualquer que não seja o branco ou o preto.
Por outras palavras, a democracia que se materializa nas urnas é espelhada pela quantidade de votos, não necessariamente pela ética ou pela moral, o certo ou errado. A democracia é o reflexo do que de consciente, inconsciente e, inclusive ignorante, o ser humano tem.
O problema é quando são muitos a revelar ignorância e inconsciência… a democracia será, então, ignorante, inconsciente… guiando-nos para o precipício, à espera apenas do primeiro corajoso ou inconsciente (?) que queira dar o passo em frente.
Autor: Paulo Duarte