Em nome do progresso teórico disciplinar, das metas científicas condensadas numa amalgama assustadora, atrofiam-lhes a espontaneidade e a capacidade de escolha na solução das dificuldades. Em nome da prossecução dos objetivos propostos e da assimilação de matérias curriculares primordialmente cognitivas e maçudas, formatam-lhes unilateralmente as potencialidades da aprendizagem. Em defesa da tranquilidade, deixam-nas entregues a imagens, sons e tecnologia avassaladoras que ofuscam sentidos, perguntas pertinentes e curiosidade que as favoreciam na maravilhosa descoberta da realidade.
A curiosidade equilibrada é o grande sentimento que deve ser a filosofia de base da aprendizagem dos alunos, sobretudo dos mais novos. As crianças pequenas possuem um instinto curioso realmente surpreendente e admirável que as leva a descobrir um mundo infinito de saberes.
Quando se sujeita a criança a muitos estímulos externos, de tal modo que estes superam a sua curiosidade, anula-se-lhe também aquela capacidade de se motivar por si própria. O ensino secundariza a vertente afetiva, as atividades recreativas e a esfera da moral e da ética.
Os sistemas educativos estão a privilegiar a massificação e a estereotipia dos currículos, sem grande respeito pelas características individuais de cada aluno. A criatividade, a iniciativa individual ou coletiva e a descoberta pessoal estão limitadas com este modelo educativo. As visões monolíticas do ensino estão a regressar às sociedades modernas, coarctando a diversificação de estratégias por parte dos professores que o desejem fazer.
E outra das consequências lógicas é a uniformização dos meios de avaliação que se tornaram saturantes, extensos e monolíticos, limitando a criatividade e a subjetividade pessoais. Estamos a fazer com que as nossas crianças transitem anestesiadas pela educação.
A culminar toda este sufoco na educação, aparecem estudos, ditos inovadores, mas pouco significativos, limitando-se a uma investigação de casos em apenas algumas áreas e sem grande profundidade e expressão ideal, da autoria de especialistas do ensino superior.
De facto, aí notam-se grandes falhas, em que os inquéritos (e conclusões) apenas falam em carências na democratização entre os alunos, bem como de um ambiente de discriminação entre eles, mas não aparecem questões (nem, portanto, conclusões) na área dos docentes.
No entanto, este é um campo onde é mais evidente essa falta de democratização, onde proliferam as grandes injustiças, quer nas nomeações, quer nos concursos para cargos ou para a subida na carreira docente. Os argumentos políticos, os compadrios e outras atitudes eivadas de amiguismo tendencioso são mais que óbvias e comandam os meandros dos órgãos do poder a todos os níveis.
Os mais aptos e mais qualificados são classificados de modo a que fiquem em lugares abaixo dos preferidinhos menos indicados e que irão ocupar os cargos em causa. A coerência entre a teoria e a prática também não faz parte do vocabulário de muitos dos responsáveis e avaliadores.
Quando ouvimos e vemos essas figuras públicas em cargos de responsabilidade a falar de ética, nota-se a hipocrisia a expandir-se à sua volta, emanando do seu rosto iluminado pelas luzes brilhantes da incoerência, da hipocrisia e da injustiça.
Autor: Artur Gonçalves Fernandes