Fabricada por Giuseppe Albrizzi, de Pavia, hoje com 63 anos, foi comprada por um sacerdote numa loja de Roma, entre 1998 e 1999, para a oferecer ao então arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mário Bergoglio.
A imagem do Bom Pastor é muito querida ao Santo Padre. «Sejam pastores com o cheiro das ovelhas», disse aos sacerdotes na homilia da Missa de 28 de março de 2013, poucos dias após a sua eleição, exortando-os a sairem à rua.
2. Por baixo da batina o Papa Francisco traz uma outra cruz, de que clandestinamente se apoderou.
Há muitos anos, em Buenos Aires, o hoje Papa Francisco tinha como diretor espiritual o Padre José Aristi. Quando este faleceu foi rezar junto dele e levar-lhe um ramo de flores. Viu que o cadáver tinha um terço. Sorrateiramente tirou-lhe a cruz, dizendo: «Aristi, dá-me metade da tua misericórdia».
Desde então, diz o Papa, trago-a num saquinho, debaixo da batina, e, quando me vem um mau pensamento contra alguém, levo a mão àquela cruz e sinto a Graça.
3. Há uma terceira cruz a que a revista se não refere, mas não deixa de pesar, e muito, sobre os ombros do Papa Francisco: a dos pecados da Igreja, que pretende cada vez mais santa; a da luta empreendida a favor da necessária reforma da Cúria Romana; a dos obstáculos movidos ao seu empenho a favor do rejuvenescimento da Igreja; a da falta de transparência em alguns setores da Igreja, onde há homens que inventam mistérios; a do combate ao carreirismo na Igreja; a da necessidade de purificação de uma Igreja que, em certos aspetos, se mundanizou e como que se esqueceu do essencial; a da sua impotência face ao martírio de tantos cristãos; a de ver como são mal interpretadas as suas intenções.
A terceira cruz do Papa é a que está anexa ao seu ofício de Pastor da Igreja Universal.
4. A cruz deve merecer de todos os cristãos um carinho especial. É testemunho de doação, de serviço, de amor até ao fim.
Pena que, em alguns casos, em lugar de ser usada como sinal do amor de Cristo e de reconhecimento pelo sacrifício de se ter entregue pelos homens, seja utilizada como mero sinal de adorno ou de ostentação.
Sinal do amor de Cristo, a cruz é também convite a que os homens se amem uns aos outros com um amor semelhante ao seu. É apelo a que os homens sejam dignos dEle, tomando cada um a própria cruz para O seguir (Mateus 10, 38; Lucas 9, 23; 14, 27). É apelo a que os cristãos O testemunhem em todas as circunstâncias, adotando um estilo evangélico de vida.
Além da cruz material, que uns mostram e outros escondem, a pretexto do incómodo que lhes causa, há a chamada cruz da vida. A cruz do cumprimento exato das obrigações de cada um, sempre que o que deve ser feito não é o que mais agrada ou o que mais convém. A cruz da aceitação das contrariedades que a vida traz, onde, às vezes, quem devia ser Cireneu complica em lugar de ajudar.
Muito mais pesada do que a que se traz ao peito ou na lapela do casaco, esta é uma cruz que cada um é convidado a saber levar, não de rastos mas abraçando-a com amor, como dizia Bernardo de Vasconcelos. Mas é uma cruz de que às vezes se foge.
Autor: Silva Araújo