twitter

As consequências negativas da superestimulação

     Herbert Simon afirmou: “O que a informação consome é bastante óbvio. Consome a atenção de quem a recebe. Consequentemente, uma grande quantidade de informação cria um empobrecimento da atenção”. Está comprovado que um excessivo bombardeamento externo de estímulos não torna as crianças mais espertas, provocando até, muitas vezes, certos problemas no processo da sua aprendizagem. 

    Não é de estranhar que as crianças fiquem entediadas, impacientes e nervosas quando voltam ao ritmo do mundo real. A criança, como diz Siegel, “precisa de um ambiente normal…, uma quantidade mínima de estímulos”. O protagonista da educação não é, primordialmente, nem o educador, nem o método que se utiliza, nem, muito menos, a quantidade de estímulos que se proporcionam. O grande  protagonista da educação é a própria criança e a sua curiosidade para o saber. O principal educador age como um intermediário entre a criança e a realidade, como base adequada de exploração do conhecimento. Se a relação com o educador  é segura, a criança irá cada vez mais longe para explorar o mundo do saber. Por outras palavras, é indispensável haver uma relação empática entre o educando e o educador. Se não houver um vínculo de confiança entre as duas partes, a criança será sempre insegura e não explorará com fidúcia o que a rodeia. 

   A qualidade não se mede pelo número de estímulos que proporcionamos à criança. Não podemos olvidar que o ser humano tem uma grande capacidade de adaptação ao ambiente. Portanto, também pode acostuma-se a viver superestimulada de uma maneira contínua. É, infelizmente, o que acontece com a juventude dos nossos tempos, vivendo absorvida quase totalmente pelos estímulos da internet, nomeadamente no telemóvel, não reservando qualquer espaço de tempo para outras atividades primordiais. Este vício até absorve o tempo das refeições e do espaço propício para o estabelecimento de um diálogo saudável entre as pessoas, quer na esfera do lar e dos amigos, quer no destinado ao estudo. Nesta situação, entra-se num círculo vicioso:

1. O excesso de estímulos externos substitui o motor da criança, anulando a sua capacidade de curiosidade, de criatividade e de imaginação.

2. Após uma sensação fugaz de euforia, a criança acomoda-se, fica passiva, não toma a iniciativa, aborrece-se e deixa-se invadir pela preguiça mental.

3. A criança fica excessivamente nervosa, com necessidade de estar sempre a chamar a atenção dos adultos, violando, inclusive, as normas sociais.

4. Aumenta o barulho de fundo da estimulação excessiva, ao qual se acomoda a criança, entrando num ciclo repetitivo.

5. A criança vai crescer neste contexto de superestimulação e vai ser, mais tarde, um adolescente desgastado, saturado, aborrecido, insatisfeito e bloqueado nos seus desejos, nos seus pensamentos e na sua vontade de livre escolha. Será assim um frustrado.

 

Autor: Artur Gonçalves Fernandes
DM

DM

11 maio 2017