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As coisas simples são as mais difíceis

O período de férias programado aproximava-se mais lentamente do que gostaria face à ansiedade da minha neta por partir. Mas a vida tem destas coisas. Uma semana antes da data programada, alguns problemas de saúde retardaram a partida. Depois de ter percorrido alguns quilómetros ouvi a minha neta, sentada na sua cadeira, na traseira do carro, exclamar cheia de alegria: “Enfim, férias!”. Depois adormeceu. A sua alegria contagiante deu o mote para os dias seguintes.

Por ela, se possível, era necessário usufruir em pleno deste almejado descanso. Enquanto conduzia, veio-me ao pensamento uma frase que o médico, que me tratara, tinha referido, quando manifestei a minha admiração por uma semana depois de medicada, surgir uma otite. Com um sorriso comentou: “As coisas simples são as mais difíceis de tratar. É mais fácil tratar uma pneumonia do que uma constipação”.

Gostei da frase que me inspiraria para escrever. Por analogia, pensei quantas coisas que parecem de fácil resolução, perduram “ad aeternum” na nossa vida. Chegámos, entretanto ao destino. Mais tarde os pais da minha neta chegariam. Feliz, quis ajudar-me a organizar tudo para preparar a sua chegada. Depois partimos à descoberta do destino dos próximos dias. E os dias seguintes decorreram repletos de paz e de alegria. O sol nem sempre brilhou. O vento fez-se sentir.

Mas nada tinha importância porque havia sempre uma solução alternativa. O melhor mesmo era encontrarmo-nos a usufruir de um período de descompressão, sem grandes rotinas, apenas com vontade de desfrutar uns dias de praia e de reunião familiar. A minha neta sentiu-se feliz por observar a existência de livros, para emprestar e depois de lidos devolver, em vários locais de fácil acesso incluindo na praia, bem como algumas atividades que promoviam a leitura.

Também a existência das festas em honra da Nossa Senhora da Boa Viagem, padroeira dos pescadores, com a sua procissão das velas, com a deslocação da imagem de Nossa Senhora ao mar, num andor que tem como base um pequeno barco, toda rodeada de flores, que tive oportunidade de visualizar na pequena Capela com o nome de Nossa Senhora da Boa Viagem e de Santo António. Esta procissão é precedida da recitação da oração do Terço na Igreja paroquial. Depois segue para os barcos devidamente decorados e iluminados para a encantadora “procissão dos barcos”, em que se vivenciam momentos de enorme beleza e espiritualidade.

Existe igualmente fogo-de-artifício, (tudo isto é preparado e concretizado sempre que o tempo permite). Há ainda animação musical, uma pequena feirinha,onde a minha neta gosta de comprar rifas, com o objetivo de trazer pequenas prendas para oferecer. A afluência nestes dias é enorme. O estacionamento difícil.

Os espaços de convívio, de lazer, de restauração com diferentes ofertas gastronómicas para todos os gostos e bolsos, encontravam-se repletos e animados com um ambiente informal, alegre, descontraído e desportivo, onde imperava unicamente, a vontade de usufruir de uns bons dias de descanso.

Passo agora a citar um pequeno episódio que teve origem na dificuldade em estacionar: um dia em que pretendia participar na missa das 19h00, confrontei-me com um enorme constrangimento para estacionar. Dei inúmeras voltas. Tudo cheio. Não gosto de chegar atrasada pelo que me pareceu uma eternidade. Estacionei longe. Caminhei o mais rápido possível, um pouco ansiosa. Quando cheguei a Igreja paroquial encontrava-se repleta. Vários sacerdotes ajudavam a celebrar e santa missa.

À frente, junto ao altar, encontravam-se muitas pessoas. Interiormente, pensei que tinha chegado tão tarde, que já se encontravam a comungar. Ainda houve tempo para rezar um pouco. Também para questionar a pessoa que se encontrava ao meu lado se era uma missa especial ao que respondeu encolhendo os ombros: “É a Missa!” Reparei como refere uma amiga médica, uma expressão muito em voga, que a maior parte dos fiéis faziam recordar um “SilverTsunami”,(tsunamiprateado), ou seja, já tinham alguma idade. Bem, dirigi-me em passo apressado para o altar, tendo sido a última pessoa a chegar.

O que fazem as pressas! Deparei-me com o sacerdote a ungir-me com óleo na fronte e nas mãos, acompanhado pela oração da Unção dos Doentes: “Por esta Santa Unção e pela Sua Piíssima misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo. Para que liberto dos teus pecados, Ele te salve. E, na Sua bondade, alivie os teus sofrimentos”. Na verdade, apesar do engano, senti-me imbuída de um sentimento de alegria e também abençoada. De algum modo, o Espírito Santo vinha ao meu encontro, com o Seu carinho, recordando que era filha amada de Deus.

No final da missa fui ter com o sacerdote referindo o acontecido. Sorriu e disse: “Reparei que não sabia o que estava a fazer. Mas não lhe faz mal”. Tinha participado na Missa dos Doentes. Feliz e mais descansada, fui ao encontro da família a pensar, que “Deus escreve direito por linhas tortas”. Já tive oportunidade de escrever sobre a Unção dos Doentes, também conhecida como Extrema-unção, e os seus benefícios, em ser ungido, por diversas vezes. Sempre tive receio de morrer, repentinamente, sem levar o Sacramento da Unção dos Doentes.

Naturalmente, não me encontraria com as disposições habituais para ser ministrado este Sacramento, mas, apesar de tudo, considero-o, uma bênção. Os desígnios de Deus são insondáveis! Ao referir o sucedido ao meu filho, ele comentou: “Mãe, pode ser que agora melhores das tuas otites frequentes!”. Bem, o futuro a Deus pertence.

O Papa Francisco recentemente referiu num Tweet: “Que o Senhor abra os nossos corações às necessidades de quem precisa, dos indefesos e de quem bate à nossa porta para ser reconhecido como pessoa”.

Os restantes dias de férias decorreram em paz e normalidade, usufruindo das coisas simples, que são as mais difíceis, que dá o título a este artigo. Que Nossa Senhora da Boa Viagem, nos acompanhe e abençoe sempre, rogando por todos nós.


Autor: Maria Helena Paes
DM

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31 agosto 2019