Confesso ser um dos consumidores de assuntos futebolísticos ocupando algum do meu tempo (mais do que devo, concedo) atento a uma modalidade que me acompanha, desde a infância no Gerês. Preferindo, no entanto, o jogo jogado ao que lhe é marginal - o jogo escrito, falado - perdi algum do meu precioso tempo a acompanhar, qual novela mexicana, o (não) assunto do menino, que com a conivência (ou aceitação) do pai, decidiu “trabalhar” para o bronze numa bancada de um estádio de futebol.
Se bem entendi, ambos têm red pass, ou seja, estão habituados a ir ao estádio do clube de que são adeptos, pelo que o pai, pelo menos, deve ter conhecimento dos regulamentos de segurança sugeridos por quem de direito, nos locais de eventos desportivos. Deveria entender também que há pessoas que, no seu dia a dia, são cordiais porque racionais mas, num evento desportivo, quando o seu clube perde, esquecem amiúde os princípios de urbanidade que todos devemos cumprir, deixando que a emoção se sobreponha à razão e, sem motivos minimamente aceitáveis, tomam atitudes que podemos classificar de “animalescas”.
Estou com este texto a defender a existência de guetos num recinto desportivo, onde os que têm camisola de uma cor vão para um lado e os outros para o outro? Já escrevi há uns anos, e mantenho-o hoje, que o meu sonho de desportista era poder ver um jogo do clube de que sou sócio e adepto, sentado, lado a lado, com um adepto adversário. Depois, também o disse, gostaria que ao longo do jogo eu me levantasse a festejar, pelo menos mais uma vez que ele e que no final saíssemos juntos a falar sobre as incidências do jogo, com ele, obviamente, a culpar o árbitro e o VAR, afirmando que o campo estava inclinado e eu a explicar-lhe que não, pois ao dinheiro que foi investido na Pedreira, o fio de prumo era artefacto imprescindível, sendo a inclinação, improvável. Acho possível este convívio, na atualidade? Não. E não é porque eu, ou muitos que frequentam recintos desportivos, não o consigam(os) fazer, tememos é a reação de muitos outros que também por lá pululam. Posto isto, tenho a certeza absoluta que foi o que sucedeu com os responsáveis pelo acesso à referida bancada - preocuparam-se com a segurança da criança e do pai. Ao que consta àquela bancada (a exemplo de pai e filho) acediam pessoas com convites. Os convidados variam e podem saber, ou… não saber estar. Há demasiados “seres” pensantes que deixam do o ser e se tornam irracionais quando numa bancada.
Já li algures que o pai pretendia colocar uma ação em tribunal contra o porteiro ou stewart que o informou que o menino não deveria entrar, naquela zona específica, com a camisola do clube de que era adepto, vestida. Em vez disso, sugiro que lhe dê uma prenda e/ou parabéns por se preocupar com a vossa segurança durante o jogo. Uma pergunta que ainda não vi ser feita ao pai: Porque não levava o senhor, também, uma camisola do seu clube vestida?
As bancadas são barris de pólvora, não levemos o rastilho.
Autor: Carlos Mangas