Por definição, “ave de rapina” é aquela pessoa com ambição desmedida, que não olha a meios para atingir o que quer. No futebol, como tão bem sabemos, o que não falta são aves de rapina. Senão vejamos.
É consensual que Portugal é um país de talentos, e que só não gera mais porque não são dadas mais oportunidades aos jovens provenientes da formação dos clubes, bem como não existe uma política global de aposta na formação de talentos que não seja exclusiva desses mesmos clubes.
Com efeito, o observatório do futebol divulgou a utilização de jogadores formados localmente (permanência no clube, durante três anos, entre as idades dos 15 aos 21 anos) pelos clubes de trinta e uma das Ligas mais importantes do futebol, na Europa.
Em termos globais, a Liga Portugal é a vigésima sexta, ou seja, só há cinco Ligas com menos utilização de jogadores formados localmente, em termos de percentagem de minutos. Em Portugal, existem cinco clubes que praticamente não utilizam na equipa principal jogadores formados em casa.
De acordo com o relatório anual da FIFA, “Global Transfer Report”, Portugal foi o país que mais futebolistas profissionais recebeu, em 2022, tendo sido contratados 901 jogadores pelas diferentes equipas nacionais, dos quais 338 são provenientes do Brasil, sendo o maior fluxo de transferências entre dois países e bastante superior ao segundo mais volumoso.
Nada que nos surpreenda, pois para a maior parte dos dirigentes dos nossos clubes é mais importante o negócio da contratação de jogadores (medianos ou nem isso), na sua maioria de qualidade inferior aos nossos talentos (formados localmente), alimentando, desta forma, “negociatas” que relevam para segundo plano os reais interesses dos clubes.
Enfim, são umas autênticas “aves de rapina”. Até um dia, espera-se.
Autor: João Gomes
As “aves de rapina”
DM
9 fevereiro 2023