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As atitudes incongruentes de certos profissionais da política

O mundo moderno está cheio de contradições e de equívocos. Veem-se grandes responsáveis que, ora se apresentam como defensores acérrimos da exigência, da honestidade e da justiça nas suas ideias e nas suas propostas, ora facilmente as esquecem, substituindo-as pelo facilitismo, pelo compadrio e pela corrupção.

Enquanto não ocorrem tragédias, tudo é um mar de rosas! Quando as catástrofes aparecem, ninguém é culpado, entrando-se numa espiral de passa culpas sem fim. No entanto, todos fizeram os estudos prévios e tomaram as devidas medidas preventivas a tempo e horas!

Perante as desgraças, as culpas são sempre dos outros. Os governantes solicitam propostas para alterar as linhas orçamentais, mas, quando elas aparecem, classificam-nas de inoportunas, gravosas, descabidas e insensatas. Se elas fossem todas integradas no Orçamento de Estado, argumentam eles, desapareceriam as devidas e justas cativações. Dizem que seria como um “carro sem travões.”

Só que também é torto um Orçamento toldado por um excesso de cativações. Passaria a ser, então, como um “carro sempre travado”. Assim, acabaria por não percorrer grandes distâncias e, nas que conseguisse efetuar, os pavimentos ficariam todos sulcados. Outros, com a ânsia de fazer inovações e primarem por um pioneirismo primário, propõem coisas ridículas, desconhecendo até as mais elementares regras da língua portuguesa.

Então não é que alvitram a ideia genuína de criar um cartão de cidadão em que se distinga o género da pessoa no frontispício: “cartão do cidadão” para o género masculino e “cartão da cidadã” para os indivíduos do género feminino.

Há pouco tempo, no congresso desses ideólogos, um dos intervenientes saudou os colegas com a expressão “camaradas e camarados”. E por que não chamar “indivídua” à pessoa do sexo feminino? O estrafalário parece não ter limites.

Como todos sabem, o mundo coevo, com a evolução da ciência e da tecnologia, proporcionou ao homem grandes avanços na conquista de soluções para os seus problemas, abrindo um leque de saídas no aproveitamento das infinitas riquezas que a natureza nos pode disponibilizar.

No entanto, o ser humano não sabendo, muitas vezes, dominar o seu orgulho intelectual e social e, na ânsia de brilhar perante os outros, assume posições, muitas vezes desfasadas e desprovidas do bom senso. Nesta avidez de protagonismo mórbido, são cometidas enormidades até mesmo por entidades de natureza e fins bondosos.

No entanto, quem pratica a honestidade, possui uma lisura comportamental, semeia a virtude da sensatez racional e desempenha, com deontologia e ética, a sua profissão, automaticamente contribui para a sua felicidade e dá um enorme e louvável tributo para o bem-estar e para o verdadeiro desenvolvimento da sociedade.

No entanto, quantas potencialidades e quanta técnica são utilizadas para anestesiar o próprio homem! Há mesmo muita gente interessada em adormecer ou atormentar o seu semelhante. Tais pessoas julgam que essa é a melhor forma de docilizar as pessoas.

Os problemas vistos de frente, sem preconceitos e de um modo isento, podem também ser aproveitados para descobrir os caminhos mais adequados para o bem-estar das pessoas e das comunidades. Se os responsáveis cultivarem os princípios éticos, em vez de apenas os proclamarem, as coletividades encontrarão a verdadeira via para a adequada solução dos seus problemas.

A desonestidade intelectual é um dos principais problemas da sociedade contemporânea. A amoralidade transformou-se num fenómeno social que trespassou o âmago das relações humanas. A técnica vem-se sobrepondo à ética. Hoje, mais do nunca, urge uma profunda e autêntica reflexão sobre a conduta humana e sobre as decisões que se têm que tomar no dia a dia.


Autor: Artur Gonçalves Fernandes
DM

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29 novembro 2018