Não sabia nem sequer suspeitava que o assédio sexual das mulheres públicas da televisão tivesse tais proporções. Parece que para se chegar a qualquer lugar de topo é preciso fazer cedências de tal natureza. Uma coisa é a comprovada competência para o desempenho de determinado trabalho, outra coisa é a escada pela qual se sobe nas escolhas. Chamou a atenção o que vi de passagem na capa de uma revista: três mulheres muito conhecidas das televisivas declararam que já tinham sido vítimas de assédio sexual nas estações onde trabalharam ou ainda trabalham. Sem pôr em causa a verdade das atacadas, veio-me à lembrança o que me contou um diretor-geral, em Lisboa: “quando não se satisfazia o pedido à funcionária, ela rompia os botões da blusa e gritava que estava a ser assediada”. Isto chegou ao ponto de ser necessário ter nos gabinetes uma terceira pessoa como testemunha. É que ultimamente são tantas as queixas de assédio sexual, que julgo que daqui a pouco são mais as assediadas que os assediadores, isto com todo o meu respeito e toda a minha solidariedade com as que são efetivamente assediadas. É verdade que pelo que sabemos já existem infiltrados da polícia de certos países para prenderem os assediadores nos transportes públicos. É um vício que se espalhou porque dizem os entendidos... “no princípio disto existe sempre algum silêncio que parece cumplicidade”. Torna-se, pois, necessário estremar o trigo do joio, isto é, torna-se imperioso averiguar onde está a verdade e onde começa o oportunismo da denúncia. O oportunismo que normalmente se reveste de proveito monetário e ou proveito de notoriedade. Não sei se todos os casos relatados são verdade, fantasia ou até vontade de ser pretendida. A ética da publicação pauta-se, em qualquer circunstância, por uma coisa muito simples: verdade. Toda a verdade é positivista: isto é, só a prova é verdadeira. Claro que os jornais e alguns canais televisivos são panfletários; vivem e nutrem-se do “homem que mordeu o cão”, porque sabem que se vendem jornais assim ou audiências; quantas vezes as aparências são capas e não conteúdos! Infelizmente a maioria das pessoas só leem as capas, os mais atentos vão até ao lead e daí não passam. Mas se a verdade está no facto comprovado, como provar um assédio se ele é praticado em lugares propícios ao reservado? Difícil ou quase impossível. Então temos que acreditar nos testemunhos das assediadas? E será verdade que todas as que se declaram assediadas o foram, ou são realmente? Julgo que estamos como o jogo do galo, a perder, desde o início do jogo, por dois lados. Se eu fosse comunicação social só daria notícias destas depois das sentenças judiciais. Nos tempos que correm talvez, se fosse mulher, comprasse uma câmara oculta para minha testemunha. Dantes isto não existia, mas hoje as micro câmaras existem principalmente no meio televisivo. Homem vigiado é homem retraído. Quem precisa de obter pela força, neste caso pelo poder, aquilo que lhe deveria ser dado com cumplicidade, é um traumatizado por complexos mal curados. Nesta coisa de ser ou não ser assediada, nem tudo será verdade, é certo, mas também nem tudo será mentira. Há que publicar, depois de provado. Quem quer ser visível, sem ser credível, sujeita-se a ser desprezível.
Destaque
Quem quer ser visível, sem ser credível, sujeita-se a ser desprezível.
Autor: Paulo Fafe