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Arte e espiritualidade

Alguma vez pensou em olhar para as obras de arte como símbolos da evolução do Homem, em particular da sua natureza espiritual?

Na verdade, a arte esteve desde sempre ligada à necessidade que o homem tem de se eternizar, de fixar a sua memória para as gerações vindouras, de se rebelar contra a finitude da sua existência.

Assim, os homens da pré-história criavam obras de arte usando matérias-primas rudimentares, como o sangue dos animais e o carvão. Estas pinturas, denominadas “arte rupestre”, eram desenhadas principalmente no interior das cavernas.

Repare, por exemplo, nas figuras que se encontram no interior das grutas de Lascaux, em França:

Ao observar estes desenhos, conseguimos ver e ler como viviam homens daquela época, o quanto os animais eram importantes para eles e faziam parte do seu dia-a-dia.

Mas percebe-se, no Homem que cria estes desenhos, para além desta necessidade de “escrever” pintando tudo aquilo que fazia parte do seu meio ambiente, uma aspiração a imortalizar a sua experiência. A arte é, portanto, uma expressão da espiritualidade que todos os homens possuem e buscam.

Esta espiritualidade – a capacidade de refletir sobre a sua experiência e de a reproduzir, mas também o desejo de saber o que há para além da vida mortal neste mundo – foi sempre um motor do conhecimento e aperfeiçoamento da humanidade. Esta mais-valia, que permite aos homens expressarem as suas vivências através de símbolos, ajuda-os a comunicar; a arte é por isso, também, uma forma de comunicar.

Os desenhos dos homens primitivos são muitas vezes abstratos, puros e belos, apesar de nem sempre corresponderem à nossa ideia de belo. O belo é uma forma sobrenatural de comunicar, mesmo que, por vezes, não possuamos a chave que nos permite descodificar uma obra de arte.

A este propósito, diz-nos o Papa Francisco no seu livro A Minha Ideia de Arte: “Não devemos ter medo de encontrar e utilizar novos símbolos, novas formas de arte, novas linguagens, mesmo aquelas que parecem pouco interessante a quem evangeliza ou aos curadores, mas que são, todavia, importantes para as pessoas, porque sabem falar às pessoas.”

Os nossos antepassados também não tiveram medo de se expressar de maneiras surpreendentes. Assim, num período posterior, as mulheres são retratadas com formas claramente arredondadas, querendo simbolizar a fertilidade. É exemplo disso a “Venus de von Willedorf”, com as suas formas exageradas, que evocam a reverência dos artistas pelo mistério da vida, pela capacidade feminina de transmitir a vida humana, encarada como uma vida que não é simplesmente animal.

Como se vê, os elementos das obras de arte têm valor simbólico. A simbologia cristã primitiva, por exemplo, é muito rica e nela os símbolos figurativos juntam-se aos abstratos, como o peixe, a pomba com o ramo de oliveira no bico, o pavão, a âncora, o lírio, o cacho de uvas, a espiga de trigo, entre outros.

O peixe representava Cristo, pois as iniciais das palavras gregas “Jesus Cristo filho de Deus Salvador”, formam “ICHTUS”, que significa peixe em grego.

A pomba fazia alusão a Noé; o pavão era o símbolo da eternidade; a âncora significava a salvação pela firmeza da fé ou a cruz do calvário; o lírio significava pureza, o cacho de uvas o sangue de Cristo e a espiga representava o pão da eucaristia.

Como estes símbolos têm um significado, também a obra do artista deve ser conhecida na sua totalidade, a fim de se decifrar a respetiva simbologia.


Autor: Ana Figueiredo
DM

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19 agosto 2019