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Aqui não temos morada permanente: Recado da “covid-19”

Todos os dias, nos meios de comunicação social, se nos dá conta dos inúmeros e perigosos casos de pessoas que se encontram infectadas com um vírus violento, ao que sabemos, oriundo da China. Designam-no por vários nomes e sabemos que ele produziu, segundo a linguagem dos dirigentes da Organização de Saúde (OMS) uma pandemia, isto é, uma epidemia que se está a tornar (ou já é) universal. São vários milhares de pessoas que morreram até agora por sua causa.

Pelas indicações que se recebem, vemos que este vírus parece não ter muita vontade de parar, porque, dia a dia, sentimos o eco das medidas que vários países – incluindo o nosso –, estão a tomar para estancar o seu alastramento. Mesmo assim, a moléstia – chamemos-lhe deste modo – continua a avançar, sem sabermos muito bem quando nos deixará em paz. E, como alguém comentava, desconhecendo se nos atacará com a violência que já causou tanta mortandade. E ninguém deseja que a sua pessoa vá aumentar o obituário da pandemia.

A própria Conferência Episcopal Portuguesa tomou as suas medidas de prevenção – sensatas e prudentes -, a fim de que as reuniões habituais dos fiéis nos lugares de culto ou afins, sobretudo no cumprimento da missa dominical, não concorram para facilitar a propagação desta malfadada pandemia , a “Covid-19”, como lhe chamava .esta manhã um clássico jornal português.

E a mesma entidade da nossa Igreja, recomenda também aos fiéis – dispensados dos preceitos das missas dominicais por agora, até ser “superada a actual situação de emergência”, possam recorrer às “possíveis ofertas celebrativas na televisão, rádio e internet”. Outras instituições católicas, secundando o que já se referiu, enveredaram por vias de cautela, colaborando assim para que tudo se possa resolver da maneira menos dolorosa.

A incómoda propagação da “Covid-19” lembra ao cristão o que .S. Paulo nos avisa num dos seus muitos escritos. “Aqui não temos morada permanente!” Efectivamente, esta frase do Apóstolo desbarata por completo a ideia de que a vida terrena actual, pese embora algumas dificuldades que temos de superar, é uma espécie de recinto fechado, onde cada um de nós tem a sua existência e só. Ou mais do que recinto fechado, um jardim cheio de flores e frutos esplendorosos, que nos conduz à conclusão inevitável de que o que há que fazer e esperar, é apenas o que ela nos pode oferecer enquanto não vier a morte acabar com tudo. Decerto que a longevidade está a aumentar. Ainda há pouco um amigo sacerdote me dizia que na sua paróquia havia um cristã que completaria por estes dias os 111 anos de vida. Sendo um caso excepcional de vitalidade - pelo menos, por agora – também chegará o seu fim. E creio que todos lhe desejaremos, no dia do seu aniversário, o que costumamos dizer nestas ocasiões: “Por muitos e muitos!”

S. Paulo adverte-nos que a misericórdia de Deus, ao criar-nos, tem para nós um fim muito mais desejável do que a existência terrena: o Céu, ou seja, a nossa participação na felicidade divina, que, por ser perfeita, satisfaz completamente e nunca acaba.

Para ela nos devemos preparar, contando com o perdão radical das nossas faltas (Cristo ensinou-nos que Deus nos perdoa até 70x7), isto é, sempre, desde que nos arrependamos e peçamos desculpa ao nosso criador.

Esta pandemia “mexe” connosco e faz-nos reflectir. Mas meditemos bem sobre a nossa vida terrena e saibamos que ela não passa de um patamar provisório, que nos abre a porta para a eternidade. Esta pode ser felicíssima ou desastrosa, quando nós não queremos enfrentá-la com humildade e encaramos como possibilidades de felicidade e de existência apenas a nossa passagem pela terra. Deus, que nos ama muito mais do que nós a nós mesmo, não nos criou para uma realidade tão efémera e raquítica. Criou-nos para um bem inexcedível, que é a vida eterna junto de Si e de toda a gente boa que Lhe deu crédito verdadeiro nesta terra, apesar das suas debilidades.


Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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15 março 2020