Passamos o ano a pensar nas férias e de repente já estamos quase no natal! Tudo passa depressa de mais, ou estarei errada? A revolução tecnológica trocou-nos as voltas, o que surgiu com o objectivo de nos facilitar no trabalho, acabou por nos fazer trabalhar mais e mais depressa, insatisfeitos, assumimos responsabilidades impossíveis de cumprir, nem que o dia tivesse 50 horas. Os nossos estilos de vida estão sempre com os radares de velocidade em alerta, a cultura actual leva-nos a excessos com cada vez menos tempo, são correrias constantes, agendas preenchidas, rotinas frenéticas, trânsito infernal, compromissos cumulativos, vivemos para trabalhar e não o contrário, mas isto é contraditório porque o excesso não funciona com os estímulos necessários à criatividade e produtividade! Há até quem procure no trabalho a sua valorização pessoal e mais grave ainda, a sua identidade! As pessoas definem-se através do trabalho e não sabem parar, chegam com facilidade à exaustão física e emocional, falta de motivação, despersonalização e baixa realização pessoal e profissional mas, dificilmente tomam uma decisão consciente de abrandar. Ou seja, sempre em movimento, seja desempenhando compromissos do trabalho, afazeres domésticos ou navegando através de um computador, de um smartphone ou do controle remoto da televisão. Com efeito, na sociedade globalizada do século XXI, a Internet não é uma mera tecnologia de comunicação, mas sim um centro de actividade social e económica. Em boa verdade, passamos de um contexto social onde a informação era um bem escasso, para outro onde a informação é abundante, mas precária e altamente volátil. As redes sociais surgiram para nos juntar, mas acabamos por estar cada vez mais afastados e isolados, somos algoritmos, vivemos em “perfis”, temos as subjectividades apreendidas, contidas, hiperadaptadas, porque rasas na sua essência, não há impulsos emocionais, cultiva-se, por isso, a patologia do branco, não se admirem com a propagação de psicopatias, sim dos psicopatas! Outra realidade é a imagem, esse subproduto bidimensional da tecnologia em que contraditoriamente tudo se julga mostrar, mas ninguém é notado, reconhecido, bem pelo contrário nas redes sociais, as pessoas são ignoradas, apenas as feridas narcisas são expostas. A televisão e os telemóveis não terminam, trabalham 24h, e nós sempre impulsionados a responder às mensagens até durante a noite. Enfim, vivemos numa cruzada global a marchar contra a própria civilização, tanta tecnologia para viver, estamos cansados, temos sono, somos uma sociedade de insónia, que vive apressada, sob pressão até esquece o devagar, o dar tempo às “coisas vivas”, porque tempo é qualidade, porque tempo é construção, porque tempo é vida! Até a espiritualidade se massificou e está a saldo! Para os problemas de saúde tendemos a ter soluções rápidas, quando a maioria destes problemas tem a ver com os desequilíbrios nas nossas vidas, mas não queremos reflectir, não queremos saber a causa, queremos resoluções apressadas, até nos esquecemos que o corpo precisa de tempo para se regenerar. Com as crianças parece que os pais sentem culpa de as deixar a brincar, esquecendo-se a “toda a velocidade” que elas, as crianças, precisam de mais tempo para serem felizes do que mais tempo para serem as melhores. Sim a hiperactividade é um efeito desta velocidade, como lhe podem resistir mentes em desenvolvimento que precisam essencialmente de tempo para crescer, ficam fragmentadas e doentes. Assim vivemos impacientes, críticos, irritados e muito violentos, com grande incapacidade de relação com o “outro”, só queremos competição, técnicas e planos, tudo tem que estar perfeito e ser imediato. Que enfado! Respire, pare ou abrande e não se preocupe que isso não significa lentidão, estagnação e/ou preguiça, reconheça as diferenças e contrarie a velocidade, a volatilidade, a produção instantânea e programada e até a descartabilidade das relações humanas, “dê tempo ao tempo”, valorize a proximidade entre as pessoas, aposte no desenvolvimento durável, respeite os ritmos naturais, pessoais e sociais, opte pelo melhor, pela moderação, pela suficiência, valorize a simplicidade e a realização do potencial único, estamos no Natal e em breve mais um ano finda, então porque não determinar momentos “off”, pequenos que sejam, para a conciliação com a Vida!
Autor: Sílvia Oliveira
Apressa-te, lentamente!
DM
17 dezembro 2017