Recentemente quatro federações desportivas indoor (andebol, basquetebol, hóquei em patins e voleibol), tomaram a decisão unânime em concluir a época desportiva sem atribuição de títulos e descidas. Era previsível que, mais dia, menos dia, o cancelamento das competições nacionais acontecesse, face ao momento atual que atravessamos. Talvez na mente de muitos ainda restasse uma ínfima esperança que ainda houvesse possibilidade de se concluírem os campeonatos.
Mas a realidade é que não existem condições para que isso acontecesse devido a uma pandemia que nos confina à recordação de outros tempos. Vários são os agentes que nas redes sociais partilham recordações com fotos das equipas que treinaram/jogaram, memórias de jogadores do passado são alguns dos desafios lançados. Talvez seja tempo de olharmos para trás e constatarmos que o desporto como o conhecemos, até aqui, pode ter chegado ao fim. E parece-me que talvez não seja absurdo pensarmos que efetivamente chegou ao fim e que já não podemos imaginar sequer que quando a “normalidade” chegar será um simples “clik” e que tudo voltará a ser como dantes. Para que eventualmente possamos preparar esse regresso, talvez seja melhor começarmos a pensar em projetar o futuro.
Quero acreditar que o primeiro passo poderá passar por reunir pessoas (especialistas) que pensem na forma de criar instrumentos, relativos ao impacto de uma paragem desta natureza. Se falamos em estado de guerra falamos igualmente de vítimas desta brusca paragem. E a primeira vítima será naturalmente o praticante, principiante, sénior, ou até veterano. Impedido de praticar a sua modalidade teremos garantias que todos os praticantes se manterão fidelizados à sua modalidade? Provavelmente o atleta profissional sim, pois quererá recuperar o seu posto de trabalho o quanto antes. Ao atleta que aspirava contribuir para que a sua equipa fosse o mais longe possível no respetivo campeonato também quero crer que terá motivação para voltar à prática. Já o jovem praticante, que provavelmente tinha iniciado a sua prática nesta época, teremos garantias de que irá voltar? Será suficiente uma comunicação a dizer que recomeçaram os treinos? A normalidade que aí vem trará as mesmas condições para treinar?
E o que pensam os pais do(a)s atletas? A conjuntura sócio económica dos tempos que aí vêm permitirão que continuem a ser o maior suporte financeiro e logístico de muitos clubes e respetivas equipas? E as assimetrias que existem, no que respeita ao desenvolvimento e crescimento das modalidades, são completamente díspares por este país fora, pois o que acontece em Lisboa ou Porto, será o mesmo também em Bragança ou Alentejo?
E se pensarmos que os clubes vão conseguir reerguer-se, mesmo com muitas dificuldades, poderemos estar na eminência de outros clubes sofrerem danos irreversíveis. E se pensarmos que muitos atletas se irão perder depois deste período de confinamento, teremos igualmente de ter a lucidez de perceber que as crianças e jovens deste país não vai diminuir, mas que haverá necessidade de construir um plano estratégico nacional de revitalização do desporto português não tenho dúvidas!..
Seremos capazes? Creio que sim! Mas com alguma apreensão!..
Autor: Luís Covas
Apreensão
DM
8 maio 2020