Falta a chuva, bem sei, que tem andado um pouco esquiva, desde Novembro. Vejam lá que estamos em Janeiro e há dias foi notícia um incêndio florestal em Cravelas! Passei por ali nos tempos de uma juventude deambulante, entretida a pisar neve fofa e a contemplar a cidade de Vila Real, aos pés da Serra do Alvão.
Terão sido as visitas à serra a despertar-me este gosto pelo frio? Não sei bem. Seja lá como for, cá em casa já dei instruções muito claras para este domingo: vamos sair cedinho, em direcção às montanhas (pode ser para os lados da Cabreira); mais exijo que o almoço seja um apropriado cozido à portuguesa, entre quatro paredes de pedra e ao quentinho de uma lareira, pois claro!
Para além de ajudar na conservação das carnes da matança e de tornar as couves mais tenras, com benefício dos comensais do cozido, este frio há-de, também, dar os seus frutos na Primavera. Muitas espécies de plantas adquiriram, ao longo da sua lenta evolução, mecanismos de protecção fisiológica que controlam a produção de novos tecidos, de forma a evitar o abrolhamento precoce e, consequentemente, os prejuízos das geadas. Assim, a quebra da dormência outono/invernal apenas se verifica quando as plantas são sujeitas a um determinado período de frio, mais ou menos prolongado, a que se chama vernalização. Em muitas plantas, particularmente fruteiras, podemos dizer que as flores e os frutos, apesar de nascerem com a Primavera, são filhos do Inverno.
Agora, que o sol já se foi, deixo o ar gelado da varanda e vou para dentro, preparar o jantar e a viagem à serra. Se ainda sobrar algum tempo talvez me deixe ficar um pouco no sofá. Quem sabe, fechando os olhos ao silêncio, ouça bater leve, levemente. Com um pouco de sorte, como na Balada que Augusto Gil lhe dedicou, talvez seja ela, branca e leve, branca e fria…
Autor: Fernanda Lobo Gonçalves