A rua ou avenida cidade do Porto, ali para as bandas de Ferreiros, desde o ex complexo da Grundig até à rotunda da Misericórdia, está imprópria para condutores cardíacos; é que a faixa de rodagem para quem se desloca, vindo do poente para a cidade, está boa para carroças ou carros de bois e não para veículos automóveis.
Eu explico: há tempos esta via direita foi palco de trabalhos no seu subsolo para, salvo erro, substituição das infraestruturas de abastecimento de água, ora, esta operação, implicando o levantamento do asfalto e trabalhos de perfuração, demorou tempo demais; e, porque feita durante o dia, pôs os cabelos dos automobilistas de pé e a língua demasiado afiada em português de caserna.
Não sei por que razão se continua a fazer estes trabalhos durante o dia ignorando simplesmente os prejuízos causados a quem por ali tem de circular, pois nesta rua ou avenida a indústria, o comércio e os serviços são mais do que muitos; daí que a utilização da noite para efetuar tais trabalhos seria o mais recomendável, mas à boa maneira portuguesa a noite fez-se para chonar ou vadiar.
Ora, a rota intervencionada que tem dois a três quilómetros, depois de tapada como é bem de ver: ficou aos altos e baixos ou seja remendada quanto baste, e isto faz-me lembrar os tempos da outra senhora que tinham nas estradas a verdadeira aplicação de cosmética do tapa-buracos-buracos-tapa-abre buracos-buracos-abre.
Depois, quando chove (embora Braga já não seja o antigo peniquinho do céu), como aconteceu há dias, os remendos de asfalto lá se vão e os buracos espevitam e ajudam os automobilistas a fazerem a digestão solavancando nos popós e, como não podia deixar de ser, lançando aos quatro ventos carvalhos e carvalheiras, ainda se tais buracos consentissem uma dança de ventre a coisa torvava-se mesmo animadora e virtuosamente licenciosa.
Vai dai, lá aparecem os homens da pá e do asfalto que largam umas pazadas nos ditos cujos buracos sem o mínimo aconchego e ala! que se faz tarde, e, então, a dança dos popós que não é de ventre nem de valsa, mas de costas lá continua sem fim à vista e gozo de ninguém.
Ignoro a quem compete o restabelecimento funcional da via, se à Câmara Municipal se à antiga Junta Autónoma das Estradas (Estradas de Portugal); mas, seja a quem for, uma coisa certa é: ontem já era tarde para acontecer, pois os danos sofridos pelos condutores, sejam nos veículos, sejam nos batimentos cardíacos não são poucos e, muito menos ignoradas.
Eu sei que os tempos são de vacas magras, escanzeladas mesmo no que à economia concerne e, cada vez mais, migalhas são pão; mas, que diacho, se tanto se critica os tempos de miséria e fuinhice de Salazar que tinha, por exemplo, as estradas mais remendadas do que calças de pobre, até parece que, agora, lhe querem seguir o mau exemplo.
Vamos lá, meus senhores, mãos à obra, porque os impostos mais que muitos que pagamos têm de reverter a nosso favor naquilo que mais urgente e necessário é, e, assim, de servir para coisa que se veja, a não ser que continuem a salvar bancos falidos ou a aparar os golpes baixos de salgados, rendeiros, berardos e etc. etc. etc.
Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado
Apanhados 22
DM
8 dezembro 2021