A denominada Ecovia do Rio Este (pedonável e ciclável) que vai da Ponte Pedrinha à Universidade do Minho só peca por não ter sido bem delineada na sua origem; e esta não passa de uma forma de ser e de estar da maioria dos autarcas do país que primam menos pelo rigor e competência e mais pela demagógica urgência do faz obra em épocas eleitorais
Quando a gestão socialista que vigorou 39 anos na Câmara Municipal da nossa augusta e bimilenar cidade de Braga deixou cair o sonho de implantar um metro de superfície sobre o rio, as suas segundas margens começaram a ser ocupadas por desbragada construção de prédios e a serem desviadas e pavimentadas; e estas ações porque sempre imperaram sob a batuta do mesmo presidente, permitiram a personalização do poder e uma autocracia e ostracismo evidentes.
E, então, muitos foram os erros e desmandos cometidos, basta pensarmos no empedramento do seu curso, contrariando os mais elementares princípios ecológicos e ambientais e nas descargas poluentes, bem como na ausência de defesa da sua fauna e flora, e, assim, podemos dizer que a cidade que esperava ali a criação de um parque imensamente arborizado e verde e que seria um autêntico pulmão contra a poluição do ar que se evidencia, virou costas ao seu rio, salvaguardando-se, apenas, a utilização intensiva dos campos de futebol.
É, então, que, salvo erro, nos dois últimos mandatos da gestão socialista, surge a ideia do lançamento de uma ecovia para peões e ciclistas nas margens do rio; e esta que podia ter sido uma ideia genial antes da ocupação um tanto selvagem das margens, acaba por dar o golpe fatal no aproveitamento do rio que os bracarenses sempre desejavam para seu gozo e deleite, mormente, porque o espaço já era reduzido e a ecovia (pedonável e ciclável) acabaria impondo o caos e o perigo na utilização não definida do espaço conjunto.
E se há consenso entre urbanistas e ambientalistas de que uma cidade que possa usufruir dos muitos benefícios e da paisagem de um rio acede a uma dinâmica nova assente em ganhos económicos, sociais e humanos, a anterior gestão da nossa cidade não soube, não quis ou ignorou tal facto; e, assim, acabou por, em vez de juntar o rio à cidade, afastá-lo e virar-lhe as costas, pois muito frequentes eram os cheiros nauseabundos que dele emanavam, bem como as descargas poluentes e a morte da sua fauna e flora.
Todavia, a ciclovia, mesmo com muitas irregularidades e defeitos de origem, começa a ganhar cada vez mais adeptos; e, perdida a gestão socialista para a Coligação Juntos por Braga chefiada pelo PSD, o rio Este regressa ás preocupações do presidente Ricardo Rio, mesmo não havendo já muito a fazer.
Pois bem, algumas correções e melhoramentos possíveis vão começando a ganhar corpo, tentando-se acabar com as descargas poluentes e selvagens, revitalizar dentro do possível as margens e disciplinar o curso do rio; e mais recentemente prolonga-se a ecovia até à Universidade, dando-lhe mais abrangência e impondo a disciplina possível na sua dupla utilização (peões e ciclistas).
Só que o espaço original é demasiado escasso e difícil é definir claramente o seu uso conjunto, daqui resultando um evidente conflito entre ciclistas e peões com o perigo de quedas e atropelamentos sempre à espreita; porque, obviamente, sem vias próprias definidas a segurança e tranquilidade mútuas não pode ser garantida.
Sabendo todos nós, porque vemos e também usamos, que esta ecovia é procurada e usufruída sofregamente por batalhões de peões e bicicletas, contrariamente ao que acontece com a ciclovia da Encosta, é tempo de o executivo municipal lançar um olhar mais atento, vigilante e constante sobre a ecovia do rio Este; e, se possível, criar espaços separados ou bem delimitados e marcados, na impossibilidade de a tornar mais larga e abrangente, e isto para não ter de se optar pela divisão da sua utilização, isto é, proibindo a utilização conjunta de peões e bicicletas nos mesmos troços ou nos mesmos dias o que não deixaria de ser um enorme incómodo e tola bizarria para os seus utilizadores.
Então, aqui chegados, só um olhar bem atento, perspicaz e voluntarioso do poder autárquico poderá minorar alguns dos males que foram feitos no rio; porque bom, bom era mesmo acabar com eles, mas isso muito difícil ou mesmo impossível será. Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado