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Antevisão das eleições presidenciais de 2021

O episódio da Autoeuropa de há tempos em que António Costa avança com a reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa nas presidenciais de 2021 espoleta a questão: será que é o primeiro-ministro a correr para o atual presidente ou este a correr para aquele ou ambos a correr conjuntamente? As dúvidas persistem, pois em política nem sempre o que parece é; e, obviamente, analisando a questão, mesmo sem ser à lupa, quer Marcelo, quer Costa são dois hábeis manobradores políticos, nunca se sabendo onde começa o golpe de um e acaba o golpe do outro. Todavia, a questão põe-se: quem mais precisa de quem, será António de Marcelo ou Marcelo de António? A meu ver, ambos precisam um do outro. Marcelo para ser reeleito à primeira volta e com confortável maioria e Costa para, aproveitando o seu último mandato de presidente, continuar primeiro-ministro em segurança e, de seguida, tentar candidatar-se à presidência da República, em 2026, sucedendo a Marcelo Rebelo de Sousa. Não tenho dúvidas de que a resiliência e os golpes de alta como de baixa política de António Costa são bem conhecidos de todos os portugueses; e alguns dos seus correligionários, como José Sócrates, José Seguro, Francisco Assis e Ana Gomes, sabem quanto lhes custou dele discordar ou enfrentá-lo em momentos de ação político-partidária; depois, ficou na história a rasteira que aplicou a Passos Coelho que, apesar de ter ganhado as eleições legislativas de 2015, acabou por ser afastado da governação do país pela geringonça de triste memória que Costa fabricou com o Bloco de Esquerda e com o Partido Comunista Português. Agora, se analisarmos o quadro político atual do país, Marcelo Rebelo de Sousa teria sérias dificuldades para ser eleito à primeira volta sem o apoio do Partido Socialista; e para baralhar muito mais os dados, surge o Covid-19, impossibilitando que o candidato Marcelo faça a sua campanha eleitoral na força dos afetos e em proximidade plena com o povo, como aconteceu em 2015, dando-lhe uma ampla maioria à primeira volta. Ora, após o episódio da Autoeuropa, Marcelo iniciou uma aproximação tática a Rui Rio, presidente do PSD, e à sua matriz social-democrata, com um rasgado e público elogio à sua atuação como líder da oposição ao governo; e esta abordagem adivinhava-se urgente e necessária desde que António Costa se manifestou a favor da sua reeleição, embora num apoio tácito e não formal, como é óbvio. E se é verdade que o presidente Marcelo tem feito um primeiro mandato muito próximo do governo apoiando, sugerindo e, por vezes, denunciando e apontando caminhos, chegou o momento de construir pontes e definir fronteiras; e a situação epidémica que entre nós se instalou e tarda em desvanecer-se vem ajudar à aceitação pelos portugueses desta sua atuação coordenadora, sensibilizadora e motivadora dos interesses nacionais, empurrando para a frente o governo, o parlamento, os partidos políticos e a sociedade civil no combate ao vírus e à crise económica e social que já vivemos. Pois bem, perante estes factos evidentes e complexos, que panorama pré-eleitoral se adivinha? Será que Marcelo tem, à partida, garantida a reeleição? E será que ela é possível à primeira volta? A meu ver, a sua reeleição não está em causa; em causa pode estar a sua evidência à primeira volta, porque os partidos de esquerda (Bloco de Esquerda. Partido Comunista, PAN e Verdes) e os de direita (CDS, CHEGA e Iniciativa Liberal) vão ter os seus candidatos ou um candidato comum e, assim, impedindo que tal aconteça; como, igualmente, dentro do Partido Socialista há vozes discordantes do apoio a Marcelo, preconizando uma candidatura própria que bem pode ser Ana Gomes. E se o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português não abdicam de apresentar o seu próprio candidato, o mesmo já não é garantido pelos restantes partidos de esquerda que, assim, poderão dispersar os seus votos; e também mais garantido será um candidato único de direita, apoiado pelo CDS, pelo CHEGA e pelo Iniciativa Liberal que, obviamente, retiram muitos votos a Marcelo. Resta o Partido Social Democrata (PSD) que não pode descartar o apoio formal a Marcelo, abstendo-se de apresentar um candidato, pois os seus dirigentes sabem que os 5 anos da próxima presidência de Marcelo ser-lhes-ão muito úteis e, até vitais para a conquista do poder no final da terceira legislatura de António Costa. Concluindo: Marcelo Rebelo de Sousa será eleito para um segundo mandato com o apoio explícito do PSD e o apoio tácito do PS; e, embora existam vozes discordantes e movimentos de contestação dentro do PS, a apresentação de uma candidatura parece-me inverosímil, pois os socialistas sabem que só têm a lucrar estando com Marcelo e não contra Marcelo; e a sua história política lhes lembra que nem sempre os ventos contrários à vontade do chefe conduzem o barco a bom porto; e, neste cenário, a reeleição de Marcelo à primeira volta estará garantida. Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado
DM

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10 junho 2020