Conhecemos todos o velho ditado de: “Ano novo, vida nova”. Apreciamo-lo, como uma espécie de programa rejuvenescido da nossa vida, do nosso dia a dia, tantas vezes igual e insonso. Parece que não nos traz nada nem de novo nem de atraente. É sempre a mesma coisa e apetece dizer: “Não saímos da cepa torta”.
Muitas vezes somos nós a criar ilusões e a tentar encontrar ditos ou frases que desculpem uma existência ”sensaborona”, isto é, onde tudo já foi visto e nenhuma novidade pode acrescentar o que quer que seja ao que experimentamos diariamente.
No entanto, quem vive deste modo, rapidamente se apercebe que nem tudo é igual. E – não é raro –, que uma contrariedade nos faça sair do mito da “cepa torta”. Se não nos preparamos para enfrentar o que sucede e nos afronta, somos capazes de sossobrar com um problema de “lana-caprina”, porque a vida nem sempre é tão benevolente nas circunstâncias que nos apresenta”, ou então, dum modo mais comodista, refugiarmo-nos numa espécie de letargia indiferente, que nada resolve e sempre nos deixa na mediocridade, porque o que nós queremos não é exactamente resolver as questões mas, perdoando a expressão, “que não nos chateiem!”
Certamente que temos o direito a viver dum modo a que não sejamos sacudidos pelo que a expressão acabada de citar significa. A convivência social deve ser pacífica e respeitadora dos direitos de cada um, assim como nós devemos cumprir os deveres que nos competem. Mas não podemos esquecer, também, que com certa frequência, o que nos incomoda não tem origem nos outros, mas nas limitações ou contratempos que experimentamos sem contar.
Por exemplo: um furo num pneu, quando estamos com pressa de chegar a horas a um compromisso; uma dor de dentes que não nos deixou dormir e se prolonga pela manhã sem solução aparente, etc. E aqui salientamos apenas pequenos contratempos. (Com esta observação não queremos minorar o incómodo que significa uma dor de dentes ou um furo que nos colhe de surpresa, depois de vários anos de ausência e quase nos fez esquecer onde está o macaco e como se desaparafusa a roda, etc).
Todos já experimentámos situações de verdadeira dor. Referimo-nos, por exemplo, à morte inesperada de um familiar ou de uma pessoa amiga, duma situação complicada por que passamos nós ou alguém que estimamos, etc.
Ou seja, a vida requer mais exigência e prontidão adequada de resposta, mais combate e menos lamentações, quando ela nos magoa de verdade. Para estas eventualidades necessitamos de preparar-nos convenientemente, sabendo que podemos ser chamados a um desafio difícil, ou mesmo duro, que necessitamos de encarar, quer queiramos quer não.
Nesta ordem de ideias, a expressão “Ano novo, vida nova”, afigura-se-me como um pouco burguesa ou displicente. Gosto mais de outra, usada com muita frequência por S. Josemaría Escrivá. Convida-nos a olhar com realismo para o que somos, a melhorar a nossa conduta quotidiana e a ter sentido mais positivo perante as dificuldades. Não queiramos com ela tornar-nos heróis românticos ou dignos de primeira página, mas apenas pessoas que cumprem com esforço as suas obrigações, não esquecendo que é na aparente monotonia das tarefas quotidianas que temos de encarar e tentar vencer os reptos que a vida nos lança. Por todas estas razões, prefiro a expressão: Ano novo, luta nova!!
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva