As sondagens que têm sido produzidas ultimamente apontam para que fiquem imutáveis, ou quase, as posições e as representações das diversas forças partidárias. É verdade que os mais recentes estudos de opinião deixaram perturbados alguns mais clubistas, mas as previsões estão ainda longe de perspectivarem um cenário de mudança significativa na governação. A acontecer assim, isto é, a manter-se quase tudo na mesma, os cidadãos relevarão aos responsáveis pela crise política, que se abateu sobre o país, não se ter justificado a convocação dos portugueses a voltar às urnas tão cedo e que o governo resultante irá integrar, desta vez, ministros do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista Português. Nenhum dos anteriores parceiros do governo aceitará não figurar no Executivo, mesmo que seja assinado um qualquer papel de compromisso. Tal tendência não obsta a que se formulem votos para que 2022 traga um governo novo, de outra cor, com responsabilidade e atitude distintas do que ainda se mantém em exercício. A alternância democrática é saudável e pode ajudar a conter pequenas tiranias que o poder desgastado permite e até fomenta. A história dos últimos quarenta e seis anos documenta-o bem.
O tempo da formação da decisão do povo inicia-se agora, com o início do ano, altura em que os partidos começam a apresentar as suas propostas e em que haverá os confrontos pré-eleitorais entre os diferentes, que esclarecerão ou consolidarão as preferências, nomeadamente, nos debates já agendados. No entanto, há muitos que têm vindo a manifestar, embora informalmente, que desejam outra via, e acham ser avisado não seguir pelo mesmo caminho percorrido até agora, acreditando que será salutar uma ocupação significativamente diferente das cadeiras da Assembleia da República para permitir um novo governo e com ele um refrescamento nos dirigentes do país que o tempo nos cargos transforma em reis e senhores. É verdade, os mais avisados já terão decidido. Depois de lerem os sinais, de escrutinarem as estrelas e se aconselharem em reflexões independentes, muitos preferem seguir um caminho novo, só possível com um governo novo, de raiz, que não tenha a ver com o número de pastas, mas com responsabilidade. Saberão se foram suficientemente seguidos no dia do acto eleitoral. Claro, o povo é quem mais ordena.
Pessoalmente, percebi que não são magos os responsáveis dos partidos que nos governaram nos últimos anos. Sim, que nos governaram, pois um e outro dos parceiros do partido do governo colaboraram ou aceitaram as decisões que nos trouxeram pelo caminho algo ziguezagueante que foi sendo definido. Além do mais, se fossem magos, teriam caminhado juntos depois de se acertarem nos acordos, apesar da diversidade de cor e do quadrante que representam. Deveriam ter caminhado juntos até ao fim do percurso e não cortarem, irresponsavelmente, relações a meio do segundo troço do caminho. Não foi garantida estabilidade nas relações e falhou muitas vezes a previsibilidade, mormente durante a pandemia. E a responsabilidade só pode ser assacada ao PS, ao BE e ao PCP. O desentendimento é da inteira responsabilidade dos três partidos, embora me pareça que competisse mais ao governo e ao PS levar a negociação até ao acordo. Afinal, quem não tem maioria deve aproximar-se das posições dos demais representantes. Houve falta de humildade e peculato político ou, então, absoluta falta de habilidade negocial. Certamente, o povo vai ter isso em conta na apreciação que fará em 30 de janeiro. E nem a necessidade de aplicar bem os milhões dos fundos da Europa não será argumento para se manter o actual governo em 2022. Pelo contrário, para que o processo seja transparente, bom seria que fosse um novo governo a pilotar a distribuição das verbas em causa. O desfecho continua, no entanto, imprevisível, apesar de me parecer que muitos dos que seguiram as recomendações do palácio do Rato não voltarão a fazê-lo. Seguirão por outro caminho.
Autor: Luís Martins