Realizou-se no passado dia 7 de janeiro o lançamento público do Ano Nacional da Colaboração. Esta iniciativa de âmbito nacional, liderada pelo Forum GovInt e seus promotores, pretende mobilizar e inspirar a sociedade portuguesa para a relevância estratégica da colaboração, ao longo de 2019. Deseja envolver organizações estatais e civis, comunidades educativas, redes inter-organizacionais e parcerias já instaladas ou a criar, que queiram desenvolver iniciativas e projetos em que “colaborar faz toda a diferença”.
Desta rede já fazem parte municípios e organizações do Minho que assumem para si a finalidade de criar dinâmicas que captem a atenção social para o tema da colaboração, como forma de contribuir para uma mudança cultural e organizacional que urge construir. Simultaneamente, deseja-se investir no contexto de educação e formação para que, desde cedo, se aprenda a colaborar e se perceba o potencial transformador da colaboração.
Que razões poderão estar na origem da criação de um verdadeiro programa nacional em rede, através de uma dinâmica descentralizada e colaborativa, num país tecido de “capelinhas” de “bairrismos” como, por vezes, parece ser o nosso? Entre muitos motivos, importa salientar o novo contexto social que se tem vindo a impor nas últimas décadas.
Neste, e apesar das respostas dadas pelo Estado e pela sociedade civil, os problemas mais complexos das sociedades contemporâneas (wicked problems) permanecem por solucionar, tais como a pobreza persistente e o desemprego estrutural, as muitas e novas formas de exclusão social, as violências múltiplas (doméstica,bullyingde diversos tipos), as exigências da mobilidade humana (imigração e refugiados), as alterações climáticas, a participação e a gestão das cidades, entre outros desafios.
Denominam-se estes desafios de “problemas sociais complexos” na medida em que, tendo origens multicausais e evidenciando uma natureza interdependente que atravessa fronteiras, organizações e culturas, não encontram respostas claras e soluções satisfatórias nas abordagens feitas por agentes estatais ou civis isolados, respostas estas que continuam a ser fragmentadas, circunscritas e burocráticas. Assim, a par do conceito de “sociedade em rede”, foi-se forjando também o conceito de “governação em rede”, assente na ideia de cooperação, inovação, flexibilidade, eficácia-eficiência e descentralização.
Aprofundar a consciência de uma cultura colaborativa implica, antes de mais, uma mudança de mentalidade que resulta de alterações de práticas e de métodos convocando, por isso mesmo, à aquisição de novas competências. Exige, por outro lado, uma nova abordagem ao social a partir de grandes temas/desafios aglutinadores em territórios integrados através de serviços partilhados. Esta mudança de perspetiva não acontece de um dia para o outro.
Os mecanismos psicossociais defensivos que permanecem na mente de muitos atores locais e nacionais (e.g., desconfianças, partilha de protagonismo e de poder) ou a herança de uma cultural burocrática (e.g., o ‘nosso’ orçamento, conhecimento, cliente…) dificultam, em muito, a assunção de uma nova atitude colaborativa.
Desconstruir estes obstáculos mentais e culturais exige a educação de um novo perfil de líderes e de mediadores, tecedores de redes e dinâmicas colaborativas que geram confiança e reforçam os laços entre os parceiros.
A resolução dos problemas sociais complexos exige, ainda, uma abordagem paciente, integrada e colaborativa também ao nível político. Os conflitos de interesse pautados pelos ciclos eleitorais de curto prazo evidenciam-se incompatíveis com as soluções integradas de médio e longo prazo próprias destes problemas.
Tomar decisões implica discernir os desafios prioritários – não se pode ir a todos – que, não raras vezes, pressupõe uma forte des-ideologização das opções a favor da dignidade humana e do bem comum… distantes, portanto, das pequenas agendas partidárias ou corporativas.
Ultrapassar os guetos organizacionais e territoriais e solucionar problemas complexos de uma outra forma, inovando em conjunto, pode constituir, pois, um desígnio nacional e um legado a deixar às novas gerações.
Autor: José Luís Gonçalves