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Anjos Brancos!

Em São Tomé e Príncipe, terra por muitos considerada um paraíso deste planeta, pelo seu clima e potencialidade produtiva de diversos géneros alimentares, há realidades que nos fazem pensar que as diferenças culturais existentes entre os povos não devem nunca ser alteradas, pois as mesmas representam a história e forma de estar de uma civilização.

Quem visita esta ilha, e sendo-se de países do Sul da Europa como Portugal, tem necessariamente um choque social ao presenciar as múltiplas situações de pobreza e condições de vida de muitas das comunidades residentes. Mas também assistimos a uma alegria contagiante e que nos faz ver que, com muito pouco, se pode e deve ser feliz.

Saber que muitas das crianças fazem a pé, diariamente, perto de 20 Km para terem acesso à educação e à sua única refeição diária mostra uma realidade completamente diferente da nossa e, para nós, certamente inimaginável. O acesso à saúde é uma miragem e as técnicas tradicionais medicinais, utilizando-se o que a natureza oferece, são a solução neste trópico equatoriano.

Apesar da fome ser um problema, a abundância de frutos e peixe ao largo da ilha trazem alguma esperança diária a todos os seus habitantes. Basta ver as caminhadas que as crianças fazem para as escolas e ver que, durante as mesmas, vão tendo acesso a árvores de fruto e usufruindo dos verdadeiros sabores que a mãe natureza lhes dá. Mas não é, naturalmente, a alimentação saudável que pensamos ser crucial, uma vez que não há acesso a outros géneros alimentares que fazem parte da nossa Roda Alimentar. A subnutrição das crianças ainda existe e deve ser eliminada.

Mas, do que vi, a maior pobreza neste território é cultural, educativa e de inexistência de estimulação pessoal. As pessoas são e continuam pobres por convicção... Muito há a fazer nestas áreas que darão, certamente, um futuro melhor às novas gerações que, sendo estimuladas, poderão aproveitar todas as riquezas naturais ali existentes.
Há duas comunidades que me chamaram especial atenção pela existência nas mesmas de uns “anjos brancos” que, diariamente, tudo fazem para que essa estimulação e educação chegue a todos os habitantes.

Na comunidade das Neves, o projeto social implementado responde na plenitude e dá alimentação diária a 1200 pessoas, acesso a creche, jardim de infância, escola e lar de idosos. Para ajudar a sustentar estas respostas sociais foram criadas oficinas de costura e carpintaria que, para além de conseguirem vestir a comunidade e mobilar as habitações dos mesmos, criaram emprego jovem e deram formação a uma nova geração. Este desafio, que envolve toda uma comunidade, foi levado a cabo pela “famosa local” Irmã Lúcia que é vista, por todos, como um anjo na terra.

Em Guadalupe, outra comunidade, estão mais 4 “anjos” que alojaram 20 meninas provenientes de roças longínquas, dando-lhes formação e preparando-as para a inserção na vida ativa quando adultas. Além disso, e diariamente, ocupam mais de 120 crianças e dão apoio alimentar em géneros a todos os que necessitam.
Apesar de todo este esforço sobre-humano ainda muito há a fazer nesta terra que, em tempos, foi da nossa responsabilidade.

Termino agradecendo a estas irmãs franciscanas pelo espírito missionário e entrega total a estas causas humanitárias, e ao amigo Frei Fernando Ventura pela sua coragem e luta diária nesta missão pelo Mundo!
Tudo faremos, a partir de Braga e com as parcerias que lá conseguimos estabelecer, para que estas mudanças se processem com mais celeridade e que o sorriso daquelas crianças seja o espelho da nossa solidariedade.


Autor: Ricardo Sousa
DM

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28 março 2017