Fantástico em absoluto o trabalho político e mental que tem vindo a ser feito sobretudo nos últimos anos por Ana Gomes neste nosso Portugal tão deprimido e cinzento. Quando Ana Gomes denunciou recentemente os donos do Novo Banco às autoridades europeias, nomeadamente aos comissários europeus e aos presidentes do Banco Central e da Autoridade Bancária, «acusando a Lone Star de desvalorizar activos do banco para registar imparidades e receber fundos de contingência», veio provar mais uma vez que a sua voz há muito que ultrapassou a do partido socialista actual, sendo evidente se ter tornado numa referência nacional que, além do mais, não vai em futebóis.
Como foi possível ler no Diário de Notícias de 15/3/19, por Pedro Sousa Tavares, «Somando os 850 milhões de euros que o Estado irá injetar este ano no banco, os 300 milhões que caberão ao Fundo de Resolução e ainda os "4900 milhões de euros injetados no NB em 2014 (mil milhões do Fundo de Resolução e 3,9 mil milhões do orçamento do Estado)", a eurodeputada conclui que "no total, cerca de sete mil milhões já foram despejados no NB até agora"». A isto temos a acrescer uma notícia publicada um pouco por toda a comunicação social nos últimos tempos de que (p.e. TSF, Hugo Neutel, 28/5/19): «Bancos receberam 23,8 mil milhões de ajudas do Estado em 12 anos / Valor supera 10% do PIB. Há casos, como o do BCP e do BPI, em que a ajuda foi integralmente devolvida ao Estado».
Pelo que parabéns aos que, se socorrendo do Estado e dos dinheiros públicos, souberam honrar os seus compromissos e se conseguem olhar ao espelho sem castrações. Mais recentemente, em 7/8/19, por Diogo Cavaleiro, ficamos a saber que «Novo Banco vende créditos e imóveis tóxicos a americanos por um terço do valor»… Ou seja, estamos no bom caminho, por trágica-cómica infelicidade de todos, para voltarmos à banca-rota nacional. Num tortuoso ciclo que, ao que parece infinito, conduz ao financiamento eterno, rumo à falência sistemática de determinadas instituições, que, arrastando outras, acabarão por arrastar o próprio Estado.
Trata-se dum irónico jogo que poderá acabar bastante mal, pois ao destruir a confiança pública na e da sociedade democrática – se já não está? –, irá destruir as bases do Estado de Direito e portanto as linhas da razoabilidade mútua entre cidadãos e entre estes e o Estado e as instâncias internacionais, entre as quais as europeias.
Quanto ao futebol e a alguns dos seus dirigentes também podemos estar descansados pois confirma-se (citando o Jornal de Negócios em 1/8/19 que «Empresa de Luís Filipe Vieira deve 54 milhões ao Novo Banco / A dívida de Luís Filipe Vieira faz parte da lista de 60 devedores VIP do Novo Banco, que a revista Sábado publica na edição desta quinta-feira».
Repare-se que não temos nada contra a instituição BenficaSL. Bem pelo contrário, veja-se os grandes clubes de futebol da Europa e do Mundo (os que ganham títulos internacionais, a esses nos referimos), na sua esmagadora maioria ou mesmo totalidade, têm presidentes que têm um grande poder económico. E todos sabemos como os clubes de futebol em Portugal formam grandes jogadores que, na primeira oportunidade, são imediatamente vendidos.
Ora, assim, nunca serão grandes clubes internacionais em termos de títulos ganhos. E mesmo o FCPorto que é o clube português mais valioso, estando no Top 10, está longe de ter um plantel que, com dignidade, possa enfrentar os grandes clubes europeus de «igual para igual». Por isso, Ana Gomes se pode considerar afinal também uma especialista em futebol profundo.
Autor: Gonçalo S. de Mello Bandeira