No filme de 2004 “Misteriosa Obsessão” (“The Forgotten”, no original), que por estes tempos vai passando num dos canais por cabo, Julianne Moore interpreta o papel de uma mãe inconsolável que luta para sobreviver à perda do filho de oito anos, alegadamente morto num acidente de viação. A mãe, Telly, sente-se enlouquecer quando a tentam convencer que o filho nunca existiu e que ela criou uma falsa memória.
O enredo é o percurso da mãe em busca do seu filho, revelando-se no final que tudo não passou de um teste de extraterrestres, que não compreendiam o mistério da relação umbilical de uma mãe com o filho e apagaram todas as memórias da sua existência com a intenção de demonstrar que era possível romper essa ligação. Rendidos à perseverança da mãe, desistem da pretensão e devolvem-lhe o filho intato.
No primeiro domingo de maio celebra-se o Dia da Mãe, poucos são os filhos que não gostem de entregar umas flores, uns bombons, um desenho, um poema, um beijo. Ou os que não a recordem com a maior saudade. O Amor de mãe é único, a dor do filho é a sua própria dor: “A mãe baixava os olhos doloridos sobre o filho /…E era a dor a contemplá-lo /…E por entre gemidos só gritava: Amôr! amôr! amôr! amôr! Assim versa Teixeira de Pascoaes.
Minha mãe terrena, reflexo da Nossa Mãe do céu: “Elevada ao céu em corpo e alma - em Deus sempre viveu, em Deus e pr'a sempre viverá - a Mãe do céu esqueceu-se cá em baixo de um espelho. E é exatamente nesse espelho que agora aparece o rosto da nossa mãe” /… A Mãe do Céu refletida na mãe da terra. E nós... Um amor imenso por ambas. Um orgulho lindo em ser filho…” ilumina-nos o Cónego José Paulo Abreu no seu “Sameiro: beleza na devoção” (Ed. Confraria de Nossa Senhora do Sameiro. Braga, 2017, pp. 131-132).
Mês de Maio, mês de Maria. Mas 2021 é também o “ano de S. José”, assim o convocou o Papa Francisco com a Carta apostólica “Patris corde – Com coração de Pai”. “Não se nasce pai, torna-se tal”, afirma Francisco, porque “se cuida responsavelmente” de um filho assumindo a responsabilidade pela sua vida. A sua figura é exemplar, evidencia o Papa, num mundo que “precisa de pais e rejeita os dominadores”, rejeita quem confunde “autoridade com autoritarismo, serviço com servilismo, confronto com opressão, caridade com assistencialismo, força com destruição”.
Vale o intróito como enquadramento do tema da inseminação artificial post-mortem, aprovado em 25 de março no Parlamento pelas forças políticas de esquerda e o IL e que retornou à ordem do dia por força do veto do Presidente, que devolveu ao Parlamento o decreto mas apenas para que sejam reconsideradas as disposições relativas ao direito sucessório e os seus efeitos retractivos.
Mais uma vez, a exemplo da eutanásia, uma maioria conjuntural na AR impõe unilateralmente a sua ideologia. Também agora se ignoram posições desfavoráveis, como o parecer técnico da CNECV, que afirma o “primado do ser humano, princípio fundamental que rejeita a sua instrumentalização”, reiterando que “o interesse da criança que vai nascer deve ser valorizado acima de todos os outros interesses envolvidos”, desvalorizando todas as consequências e o direito das crianças a ter um pai e uma mãe, em comunidade familiar de vida e amor, como indica D. Antonino Dias, bispo de Portalegre-Castelo Branco. O MP aponta para a inconstitucionalidade de diploma.
É evidentemente compreensível a dor de uma mulher com a morte do marido, bem como o seu desejo de ter dele um filho. Mas pode o amor de mãe, por pura intervenção da técnica biomédica, prescindir do amor do pai? Não será que o interesse da criança é, aqui, posto de lado e que os mais elementares princípios de prudência são ignorados”, como aponta a Associação de Médicos Católicos, num quadro em que se “desconhece o impacto da solução no desenvolvimento da criança que vier a nascer” como alerta o CNECV?
Uma maioria parlamentar é representativa do povo, mas não deve servir para legislar contra as ideias ético-jurídicas predominantes na sociedade. É certo que os pareceres não são vinculativos, mas para que vale a sua solicitação para simplesmente serem ignorados quando são fundamentalmente contrários? A não ser que se queira dar razão aqueles que assinalam a existência duma sanha contra a família como pilar da sociedade.
Um enorme abraço a todas as mães!
Autor: Carlos Vilas Boas