Tempos de mudança geraram fortes alterações comportamentais e a sociedade foi perdendo os seus contornos e limites morais, ultrapassando as fronteiras dos valores tradicionais e desaguando, lentamente, num mar sem margens, onde o mal e o bem parecem ter o mesmo peso.
A precária ou diminuta educação ministrada em casa, a ausência ou presença ausente dos pais, a deficiente atenção familiar aos filhos, é um caminho muito permeável para que todas as perniciosas influências oriundas do exterior se infiltrem de mansinho no seio do agregado familiar e corrompam a criança ou adolescente em fase de crescente moldagem de carácter e personalidade, mas sempre carente de afectuosas e bem definidas normas de conduta.
Pais com excesso de trabalho e reduzido tempo disponível para os filhos, desagregamento familiar com consequente reflexo afectivo e educacional e ausência de inter-ajuda entre gerações, permitiu um abandono e isolamento, diminuindo as defesas e a protecção necessárias e indispensáveis para fazer frente a eventuais agressões, que sempre incidem sobre os mais frágeis, tímidos, inseguros e indefesos.
Permanentemente na sociedade acontecem situações dramáticas que se projectam na mente de todos nós, deixando marcas pouco saudáveis, como a violência doméstica, com episódios de forte cariz patológico e acentuada gravidade social e psicológica, que se banalizam à força de repetidas e mal assimiladas explosões mediáticas. Urge haver uma atitude crítica, lúcida e vigilante de apoio e esclarecimento por parte de todos os educadores, nomeadamente os pais, avós e outros familiares que não podem nem devem ignorar o seu papel de orientadores e condutores de boas maneiras e de bons exemplos.
O excesso de informação mal digerido, a confusão de papéis a desempenhar na sociedade e a ausência ou rejeição de normas e padrões de bom comportamento social, de educação, de saber estar e saber agir, conduziu-nos a este caos de violência em que todos saímos um pouco salpicados, mas no qual também temos a nossa quota-parte de culpabilidade.
É nossa obrigação moral e ética estarmos atentos às constantes mutações da sociedade. Será, sem dúvida, uma tarefa árdua mas desafiante da nossa parte, podermos contribuir de forma construtiva e democrática para a criação de condições de resolução dos imposições destrutivas que surgem também no ambiente escolar e se refletem em toda a comunidade social, muitos deles consequência da leviandade com que se abordam alguns temas educativos nas escolas, nomeadamente no que toca ao foro íntimo da criança.
Autor: Maria d´Oliveira