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Aliviar o sofrimento ou eliminar o sofredor?

  1. Uma fractura quebra, divide, fere e, nessa medida, faz doer.Assim sendo, as fracturas são para evitar ou – não podendo ser evitadas – para curar. Nunca para provocar.

  2. Apesar de globalizado, o nosso mundo está cada vez mais fracturado.Estamos perto de quase todos e, não obstante, sentimo-nos separados em quase tudo.

  3. É por isso que precisamos não de «causas fracturantes», mas de «causas unificantes».Haverá causa mais unificante do que a vida? Haverá causa mais unificante do que a protecção da vida e do que a dignidade da vida?

  4. É claro que as discussões são possíveis e as discordâncias podem ser saudáveis. Miguel de Unamuno entendia até que «nada nos une tanto como as nossas discordâncias».Podemos estar unidos quando discordamos. Mas será aceitável discordar daquilo que nos deveria unir? Se a defesa da vida não nos une, o que nos unirá?

  5. Há projectos que pretendem dar forma de lei à possibilidade de decidir o final da vida.O critério é o primado da decisão pessoal. Mas será que a autoridade admite sempre tal primado? Permite que um cidadão decida os impostos que paga ou a velocidade a que circula?

  6. A sociedade nem sempre sufraga o que dimana da vontade de cada um.Uma decisão não é considerada justa só porque é tomada por cada um; uma decisão só deve ser tomada por cada um quando for considerada justa.

  7. Além de relativa, a liberdade é relacional e a autonomia coexiste com a heteronomia. Ou seja, tem em conta normas e princípios que transcendem o arbítrio pessoal.Tais normas e princípios não são determinados sincronicamente. São estabelecidos diacronicamente, alicerçando concepções e comportamentos.

  8. Não são os valores que devem ser conformados à vontade individual; a vontade individual é que deve conformar-se aos valores.Acresce que, mesmo no tocante à autonomia, o caso do pequeno Alfie Evans expôs uma flagrante incoerência.

  9. Por um lado, preconiza-se a autonomia da pessoa. Mas, por outro lado, não se respeita tal autonomia quando ela dissente do consenso conjunturalmente dominante.Afinal, a quem compete definir o «superior interesse de uma criança»? Aos pais ou ao Estado e ao Hospital?

  10. A vida humana merece os maiores cuidados desde o primeiro momento até ao último instante. Tais cuidados, para ser efectivos, também hão-de ser afectivos.Muitas vezes, quando se pede a morte, o que se pede é o fim do pior sofrimento, que é a solidão e o abandono. Mas, nesse caso, o caminho é aliviar o sofrimento, não eliminar o sofredor!


Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
DM

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8 maio 2018