Tantas greves em Portugal e igualmente em tantos outros países europeus! Em Portugal todos reivindicam mais salários ou condições de trabalho com exceção dos professores que, justamente, querem a totalidade do tempo que trabalharam. Todas as reivindicações são justas mas a dos professores, porque não lutam por melhorias mas pela verdade do trabalho prestado, tem outra força moral, tem o carimbo da justiça.
Em França, principalmente em Paris, qualquer pretexto serve para partir montras, incendiar pneus ou virar automóveis na via pública. A França sempre soube transformar uma rebelião numa revolução. Olhando para estes franceses radicais e aproveitadores das razões dos coletes amarelos, fica-nos a sensação de que nem todas as reivindicações estão justificadas e, assim, todas as violências não se justificam. Perdem a razão na razão direta dos excessos.
Mas por que razão se manifestam nas ruas estes contestatários? Em França porque sim; em Portugal porque se trata da promulgação pelo Presidente da República do OE; enquanto não estiver promulgado ainda alguma coisa pode escorrer e até pode caber mais uns euros ou quiçá cêntimos de acrescento aos bolsos dos remunerados. Depois de promulgado qualquer reivindicação passa “a não ter cabimento orçamental” o que quer dizer não pode ser atendida.
O que realmente se trata, no meu entender, é que está montada uma campanha eleitoral e posta em marcha para desgastar o Governo; aproveita-se a direita – PSD, CDS – para diminuir o fosso já existente entre ela e o PS; aproveita-se a esquerda, PCP e BE – igualmente para que o PS não alcance a maioria absoluta; faria dos dois apoiantes parlamentares de esquerda, visitas de casa em vez de parentes em coabitação; parentes pobres mas mesmo assim bem melhor do que visitas.
A pergunta que faço é esta: aumentaram assim tanto os preços do arroz, do açúcar, do peixe, da carne, das frutas, dos transportes, para justificarem um aumento salarial que recupere o poder de compra dos trabalhadores? Se é para recuperar progressões e tempo de serviço prestado e não contado, são mais que justas as greves; se é para aumentar salários aos efetivos, que esperem até que os contratados a prazo, com serviço efetivo, sejam integrados nos quadros da empresa.
Caso dos estivadores do porto de Setúbal ou dos enfermeiros. Quanto a estes é preciso interrogarem-se se o direito à greve é mais forte do que o direito à vida!!! A greve dos juízes é, no mínimo, estranha; não condeno nem absolvo porque me faltam conhecimentos bastantes para formular uma avaliação honesta.
Conhecimento que se prende entre o direito à greve de órgãos de soberania. Não sei, não falo. Poderia tirar conclusões com premissas falsas e delas tirar uma conclusão lógica. Seria desonestidade intelectual. Honestamente sei que não há Estado de direito sem administração de justiça.
Mas será que estas greves retiram ao PS a maioria absoluta ou, no parecer e julgamento de cada eleitor, ele sabe distinguir os tipos de greves pela justeza e pertinência das mesmas? As que são de aproveitamento político devem ser devolvidas aos remetentes. As outras devem merecer-lhes todo o respeito democrático.
Olho para as greves nacionais e sei que há quem não saiba distinguir a realidade do sonho; são como Constantino, o rapaz que era “O guardador de sonhos e de vacas”, de Alves Redol. Sonhar coloca flores nas pedras da calçada. A calçada não desaparece só porque sonhamos. É a velha parábola do trigo e do joio.
Autor: Paulo Fafe