- A genealogia não interessa só aos nobres). Longe disso. Qualquer pessoa comum, pode e deve ter curiosidade natural de saber “donde vem”. De saber quem são os seus antepassados. Saber o que ainda resta da memória deles (nas histórias de família, nos documentos, nas fotografias). De saber o que faziam e onde moravam. Saber se deles sobrou algum escrito pessoal ou acto em cartório (negócio, casamento, testamento).
- Um modo de nos ligarmos a locais inesperados).Hoje, a maioria da população portuguesa está concentrada em “cidades-destino” de migrações internas recentes, tais como a “grande Lisboa”, Porto, Gaia ou Braga; mas também Vila Real, Aveiro, Coimbra, Guimarães ou Setúbal. Este é um motivo suplementar para que quem nasceu nessas grandes urbes saiba donde vêm realmente os seus avós “migrantes”; de que parte do país (ou do estrangeiro) é que veio a sua estirpe.
- A árvore genealógica tem a forma duma “pêra invertida”).Se repararem, todos temos 2 pais, 4 avós, 8 bisavós, 16 trisavós, 32 tetravós e por aí fora, em progressão geométrica. Porém, por eles viverem em aldeias “tribais”, à medida que subimos nas gerações, verificaremos que, em cada geração, já descendemos de muitos desses antepassados por vários lados (ramos); e daí, a pêra começar a estreitar drasticamente. No início do séc. XIX já muitos deles são parentes. Com o recuar dos séculos este fenómeno acentua-se. E leva até a que, numa Nação, todos sejamos parentes uns dos outros, mesmo que não sejamos fisicamente parecidos.
- As longas genealogias fazem de nós todos, celtas, alemães, italianos, etc.). Aqui, em Portugal e Espanha, temos uma gloriosa base ibérica antiquíssima (que remonta aos artistas que pintaram as grutas de Altamira, há 20 mil anos). Antes de Cristo fomos repovoados por 2 fortes migrações célticas, muito marcantes ainda hoje, em vastas zonas. Depois veio a conquista italiana (romana), notória ao longo das principais vias (p. ex., a que liga Lisboa, Santarém, Coimbra, Azeméis, Porto, Famalicão, Braga, Gerês). Depois, as 2 vagas de conquista alemã (suevos desde a Galiza até Coimbra); e os poderosos visigodos (vencedores dos suevos em 585 d. C.), mais abundantes no centro e sul.
- O custoso excesso de confiança do nosso rei Rodrigo).Corria o ano de 711 e andava Rodrigo, o rei visigodo de todas as Espanhas, entretido a submeter a cidade basca de Pamplona, quando os marroquinos (islâmicos) desembarcam perto de Gibraltar, com o fito da conquista e expansão da sua fé. Vem o rei de lá de cima a correr, em marchas forçadas e logo dá combate. Que perde. De Rodrigo ninguém mais saberá, os mouros não dizem que morreu, mas que fugiu. A onda de conquistas mouras fez-se em apenas 4 anos, sob o comando de Tarik e de Mussa. O sangue mouro vai espalhar-se pelas Espanhas todas (excepto nas Astúrias e Cantábria). Dos mouros são aliados oportunistas os judeus , cujas pequenas colónias já cá estavam desde o séc. II d. C. (e que sempre se malquistaram com os godos). Portugal só terminará a sua Reconquista em 1249. A Espanha, apenas em 1492.
- D. Luís da Cunha, Pombal e o fim das leis da “limpeza de sangue”).Pombal abriu as portas da administração pública, a todos aqueles que antes, por terem sangue judeu, mouro, africano, indiano, não podiam ser governantes em Portugal. Destruiu a própria memória, pois queimou os “róis das fintas”, as listas dos que eram cristãos-novos. Não admira pois, que o famoso diplomata Luís da Cunha (1662-1749), protector de Pombal, fosse neto duma goesa.
- Os avós de José Afonso e de Almada Negreiros).A ascendência paterna do cantor era toda da zona do Fundão (como Amália). E a materna, toda de Ponte de Lima. Já em Almada, a paterna é quase toda do B. Alentejo (até ao séc. XVII); de Aljustrel, Odemira, Serpa; a materna era mestiça (dum lado, santomense mas com origem em Benguela; doutro, de S. Monte Agraço e Santarém).
- Os de Pessoa, Salazar e Afonso Costa).Pessoa, geneticamente é o mais português dos portugueses. Do lado da mãe, é só açoreano (com um “avô” galego, no séc. XVIII); do lado paterno é “um pouco de toda a parte” (Lisboa, Tavira, Serpa, Faro, Bragança, Fundão, Alhandra, Loures, Óbidos, Chacim!, Porto, Fermedo!, Arada!, Luzim!, Montemor…). Ainda é parente dos Camisões, de Arouca… Já o dr. Salazar (o apelido virá dos Pirinéus) é de pai e mãe originários de Viseu (S. Comba, Tondela, Tábua, Carregal e F. Algodres); no séc. XVIII tem avós de Amarante, Penacova, S. Tirso, Trancoso e Torres Novas. O “algo execrável” dr. Afonso Costa tb. é todo da Beira Alta (Seia, Oliv. Hospital, Tázem, Senhorim); e toda a sua descendência é do meu sangue, pois seu genro era dos Castros (de Fiães, Feira), primos do meu bisavô…
- Sidónio Pais, Spínola, Américo Thomaz e Solnado).Sidónio era de Caminha e de Barcelos, só. Spínola era só madeirense, mas sua mãe tinha algumas raízes em Tuy e em Braga. Ferreira do Zêzere une os genes de Thomaz, Solnado e Ivone Silva.
- D.Carlos e Afonso Henriques).Morto pelos carbonários em 1908, D. Carlos era ironicamente neto de Vítor Manuel, o rei liberal da Itália; e bisneto de D. Pedro IV… Já o nosso 1.º rei, esse era trineto de Roberto II, rei de França; e neto de Afonso VI, de Leão e Castela, p. ex..
Autor: Eduardo Tomás Alves