Não foi a universidade que te ensinou a ter razão. Foi Deus e a tua sofrida experiência que te adornaram com um enorme coração.
A tua razão teve sempre coração e o teu coração teve sempre razão. Alguém como tu, Mãe?
O que me ias dizendo sobre situações e pessoas chegava a deixar-me assombrado: «Será mesmo assim, minha Mãe?»
Mas era. Mais cedo ou mais tarde, confirmava como estavas certa, sempre certa.
Sei que gostavas do que fazias e que fazias o que gostavas.
Ultimamente, até costumavas rematar as tuas ocupações com uma comovente exclamação, sem qualquer ponta de afectação: «O que eu sou ainda capaz de fazer»!
Tinhas toda a razão quando me respondias: «Tu não tens jeito nenhum para isto». E, de facto, não tinha. Nem tenho. Mas comecei a executar alguns trabalhos.
Até que chegou aquele 18 de Fevereiro. Uma vez mais, foste alinhar o que, a teus olhos, não estaria devidamente alinhado. Foi o cenário que encontrei quando te vi no chão, sem sentidos.
Cheguei a temer, Mãe, que o teu coração tivesse parado.
Foi a soluçar que te reergui e procurei auxílio. Veio logo um «anjo» em forma humana que, em fracções de segundo, fez as necessárias diligências.
Já no hospital, soou o diagnóstico mais desolador: «Preparem-se para tudo».
Sendo crente e humano (desumano é que não quero ser), confesso que não estava – nem estou – preparado para continuar no mundo sem a minha Mãe.
Pedi (cf. Mt 7, 7), pedi muito. Entreguei minha Mãe nas mãos da nossa Mãe, para que intercedesse por ela junto de Seu Filho.
E o milagre – é a única palavra que me ocorre – deu-se. Minha santa Mãe não foi para junto de Deus. Mas Deus nunca tem deixado de estar junto dela.
É claro que dói vê-la limitada cognitivamente e nos movimentos. Têm, contudo, surgido vários «anjos» que lhe oferecem o conforto que ela merece. Nunca os/as esquecerei.
Diria que a minha Mãe – que viveu desmedidamente a lei maior do amor – foi «salva» pelo amor: pelo amor divino e pelo amor cristalino de pessoas que, guiadas por Deus, a envolvem com todo o afecto e dedicação.
9. Apesar de tudo, sinto-a feliz. Aqui e ali, não deixa de selar algumas frases memoráveis. Como quando lhe perguntaram, antes de se deitar, o que ia fazer: «Vou fazer o que Deus quiser».
Foi sempre assim. O Terço pousa incessantemente nas suas mãos. E, mesmo quando nada mais diz, para rezar e cantar está sempre disponível.
Sábado – dia 13 – completará 92 anos. Parabéns, Mãe, vida da minha vida!
Mesmo limitada, preciso cada vez mais de ti. Vejo-te sempre linda, sempre pura, sempre tu, sempre Mãe!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira