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Ainda sobre o Dia Mundial da Criança

1. A História da infância nem sempre tem sido um jardim de rosas, muitas vezes foi um pesadelo do qual só agora se começa a despertar. Em 1988, ainda havia autores que referem a punição física como prática educativa. Aliás, em pleno século XX, isso ainda era prática corrente, até em colégios ditos de elite. Para alguns, era mesmo um distintivo de qualidade... Só a partir de 1950 é que se reconheceu que os maus tratos dentro da família eram considerados nocivos para a educação. A comunicação social também contribuiu para essa mudança cultural ao ampliar a visibilidade dos factos. Ainda hoje há casos, mas raros, de professores condenados em tribunal por agressões físicas a crianças: não sendo capazes de estabelecer uma relação pedagógica que motive os alunos (logo, não deviam ter ido para professores), tentam recorrer ao castigo físico para garantir a ordem na classe; mas, como a lei lho proíbe, passam a sua frustração para os pais para serem eles a fazê-lo em casa: convocam os pais e fazem queixa dos filhos, como quem diz: como eu não os posso castigar, façam-no vocês... E, como ainda há pais que não sabem distinguir entre o respeito devido ao professor e má relação pedagógica do professor, que gera indisciplina, as crianças acabam por ser os bodes expiatórios das frustrações dos adultos… Talvez Lundin tenha mesmo razão ao escrever, no seu livro “PERSONALIDADE, uma análise do comportamento”, pgª 663, que “a ameaça e a força como técnicas de controle são aplicadas por pessoas inflexíveis e por aqueles que se sentem reforçados por assistir ao sofrimento dos outros”. 2. Desde o Oriente ao Ocidente, o espancamento das crianças foi muito praticado. Refere DeMause que, desde a antiguidade até ao século IV d.C., havia pais que resolviam as suas ansiedades com o abandono dos filhos ou matando-os. Ainda hoje há disso… Há uma semana, uma mãe pegou na filha de 4 anos e abandonou-a na rua… A PSP foi-lha devolver e ela recusou-se a recebê-la. E uma mulher e amante vão a tribunal por venderem 4 bebés por 104 mil euros….Um dos crimes mais disfarçados, mas dos que mais ferem, é a rejeição afectiva, que diz muito da personalidade parental. Ultimamente, tem-se dado grande visibilidade ao crime da pedofilia, um abuso sexual e pessoal cujas motivações estão também associadas a imaturidade e desvios ou carência de vivência normal da sexualidade dos agressores. Para além do aspecto pessoal, há em tudo isto um factor básico comum: a desorganização da família Há países pré-alfabetizados onde o incesto materno é bastante praticado: por exemplo, na Nova Guiné, existem muitas crianças traumatizadas com experiências eróticas precoces “para as tornar em guerreiros ferozes e canibais” e 1/3 morre em guerras antes de chegar à idade adulta. Na América, 30% dos homens e 40% das mulheres dizem ter sido molestadas sexualmente durante a infância. E cerca de metade desses casos são molestados por incesto (há autores que admitem que a taxa real do abuso sexual é superior: será de 60% nas meninas e de 45% nos rapazes). 3. Fora do Ocidente, as coisas não estão melhores. Na Índia, as crianças são masturbadas pela mãe logo desde pequeninas: a menina é “para fazer o seu sono” e o rapaz “para crescer forte”. Crianças com 5 a 6 anos são desde cedo envolvidas em actividades incestuosas pelos pais ou cedidas, para o mesmo efeito, a outros membros do agregado familiar. Só em 1929 é que o casamento de crianças foi ilegalizado, embora contra a opinião das mães, que entendiam que isso ia deixar as filhas mais desprotegidas de serem violadas no seio da família. Na China, há o ritual de estupro das crianças institucionalizadas, incluindo a violação por parte dos pais, a castração de menores para depois servirem como eunucos, os casamentos consanguíneos, a prostituição infantil, a utilização sexual das crianças como agentes escravos… No Japão, 20% das meninas dormem com os pais até cerca dos 20 anos. Em zonas rurais, ainda há o costume de o pai casar com as filhas em caso de falecimento da esposa. As mulheres árabes sofrem mutilação genital, pelos 6 anos, para lhes retirar a possibilidade de terem prazer sexual e assim garantirem que, mais tarde, não vão ser infiéis aos maridos. E são os próprios pais que as violam… Em Moçambique, entre pobreza e tradições, meninas aos 10 anos já namoram, muitos casos de gravidez precoce, muitas depois são abandonadas, outras morrem por complicações obstétricas da gravidez precoce… Como se vê, a evolução dos direitos da criança tem sido um caminho difícil e desigual. Hoje, admite-se que a relação mãe/filho seja o processo mais fundamental para ajudar esta evolução. Há um outro procedimento que pode ajudar: a denúncia às autoridades dos maus tratos a crianças, já que elas não se podem defender.
Autor: M. Ribeiro Fernandes
DM

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7 junho 2020