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Ainda haverá homens autênticos?

Nos tempos atuais, a arte de se formarem verdadeiros homens está muito desvirtuada e diluída. São muito raros aqueles seres humanos a quem se pode aplicar a noção de “Homem” que já o incomparável Diógenes não conseguia enxergar na comunidade grega onde vivia e que bem conhecia. Se ele vivesse hoje, talvez lhe apetecesse refugiar-se nalguma gruta, longe das grandes multidões que vegetam por esse mundo fora!

Infelizmente, na própria classe dos responsáveis das comunidades, a quem muito se exige, também não se encontra uma abundância palpável de homens impolutos, verticais e honrados. Por que será que, numa grande parte dos casos, só os incompetentes, os pseudo-ousados, os amigos do poder “a todo o custo”, os delapidadores do bem comum e os exploradores das poupanças dos pobres, se apresentam sofregamente como candidatos aos cargos públicos político-partidários?

É que as suas redes de influência são tão fortes e numerosas que, se algum honesto se atrevesse a chegar a esses lugares, pouco tempo lá permaneceria. A gentalha e a escumalha dos correligionários da dita classe encarregar-se-iam de o afastar, porque se tornaria num empecilho para os seus objetivos.

A História encarrega-se de nos confirmar esta teoria ao longo dos tempos. Os poderosos continuam mais poderosos, os ricos mais enriquecidos enquanto que os trabalhadores são cada vez mais espremidos no suor do seu rosto. Tantas vezes, essa gentelha é tão incompetente, mentirosa e incoerente que até perante as calamidades que afetam a maioria do povo ousam fazer apreciações públicas irónicas e espirituosas!

Um homem só é forte conforme as suas aptidões forem desenvolvidas harmoniosamente e de um modo condicente com a onticidade humana. O mundo é como uma escola onde todos nós somos alunos, voluntária ou involuntariamente das primeiras letras da verdadeira vida. As autênticas normas apenas se encontram nas convicções éticas e morais, vividas numa convivência sadia.

Há muitos falsos profetas a pregar ideologias nobres, mas cuja conduta prima pela desonestidade e pela corrupção descaradas sem o mínimo pejo social. A sua compostura deixa muito a desejar por falta de coerência entre a função desempenhada e a vida privada e social, para não falar no exibicionismo que mata a humildade que os deve nortear. Os critérios de seleção, por vezes, não são os mais ajustados para o desempenho das funções a que se apresentam.

A experiência correta permite-nos ver que eles não são capazes de se libertar das garras da ganância, da vaidade e dos vícios. Dão-nos uma perspetiva real do mundo humano que nos rodeia e que nos sufoca constantemente. Há no homem qualidades mais que suficientes para formar autênticas pessoas com olhos para ver mais basta e profundamente, para além da superficialidade e da efemeridade dos grupos de pessoas desonestas e incompetentes.

Não é só no mundo material exterior que se deve procurar a verdade, mas sobretudo no próprio homem, por meio de uma observação mais atenta e serena. E só nos conheceremos realmente a nós próprios e aos outros se conhecermos a nossa onticidade transcendental.

A vida é muito mais do que a fama, a riqueza, o poder, a prepotência e o hedonismo materialista, que, sendo efémeros, passam com muita rapidez. O homem sensato, correto, vertical, solidário, desprendido das honrarias mundanas e coerente com a sua natureza, tem uma visão de vida mais elevada, mais nobre e mais humana.


Autor: Artur Gonçalves Fernandes
DM

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16 agosto 2018