É a história do Moinho de Sanssouci: em 1736, o rei Frederico Guilherme I da Prússia concedeu uma licença para a construção dum moinho em Potsdam. Ficou completado em 1738. Era próximo do Palácio Sanssouci de verão de Frederico (II) o Grande construído entre 1745-47. Um novo moinho foi construído entre 1787-91 e patrocinado por Frederico Guilherme II, sucessor do anterior. Foi idealizado por Van Der Bosch. Em 1840 ascende ao trono Frederico Guilherme IV, o qual encarrega o arquitecto paisagista Lenné de renovar a zona por volta do moinho. Também estava planeado um Caminho Triunfal em homenagem a Frederico o Grande, mas tal projecto foi suspenso por causa da Revolução de 1848. Em 1858, foi a vez do último moleiro não renovar o seu arrendamento. Na sequência disto, o rei recusou novos candidatos e o edifício passou a poder ser visitado em 1861. Em finais da II Guerra Mundial, em 27/4/45 acontece o indesejável: um tanque de guerra soviético foi atingido por uma bazuca alemã entre o moinho e o acesso ao Palácio Sanssouci. Foi aqui que o moinho e a chamada Casa Suíça se incendiaram. Esta última não seria reconstruída. Segundo a lenda - historiador Kugler em 1856 -, Frederico o Grande teria se oferecido para comprar o moinho a Grävenitz. A razão seria o barulho das velas que irritava o Rei Imperador. Mas Grävenitz recusou e o rei ameaçou-o: “não sabe ele que eu lhe posso tirar o moinho em virtude do meu poder real sem pagar um só chavo?!” Foi então que o moleiro respondeu: “Claro, Vossa Majestade pode fazer isso facilmente, se – pedindo-lhe perdão – não existisse um Tribunal Superior em Berlim”. Na sequência disto, Grävenitz, homem temperamental que peticionava por tudo, e tinha fama de enganar os outros nas quantidades de farinha, requereu ao rei Frederico o Grande que lhe construísse outro Moinho uma vez que o 1º tinha menos vento por causa da proximidade do novo Palácio de Sanssouci. Assim, Grävenitz passou a ter 2 moinhos. Outro é o caso do moleiro Miller Arnold de Pommerzi, o qual era inquilino do Conde Schmettau que lhe cobrava juros hereditários. O administrador distrital Von Gersdorff que tinha terras na parte mais acima do rio construiu um tanque. Deste modo, o rio passou a transportar pouca água. Logo o moleiro Arnoldo deixou de poder pagar. Em 1773 Schmettau conseguiu uma sentença favorável, no Tribunal onde ele próprio era juiz, contra o moleito Arnoldo. Este último recorreu então para o Tribunal competente de Küstrin, mas perdeu de novo e o moinho foi apreendido e comprado por Gersdorff em 1778. Arnoldo reclamou junto de Frederico o Grande. Mas, tanto o Tribunal Distrital de Küstrin, como o Tribunal de Recurso de Berlim não lhe deram razão. Frederico o Grande ordenou a prisão dos juízes por causa das suas sentenças injustas, pois “ninguém pode proteger eles próprios a partir deles” e “merecem dupla pena, pois são esses os maiores bandidos do mundo”. Mas como os outros juízes se recusaram a condenar os colegas, Frederico o Grande sentenciou-os a 1 ano de prisão em Spandau e deu a Arnoldo uma indemnização pelos danos. Mais tarde, os juízes foram libertos depois de cumpridos 2/3 da pena. O julgamento de Arnoldo foi visto como o nascimento da Independência Judicial, a qual acabou por ser implantada em 31/1/1850 na Constituição da Prússia, art. 86º: “1- O poder judicial é exercido em nome do rei por tribunais independentes, não sujeitos a nenhuma outra autoridade senão a da lei. / 2- Os julgamentos são emitidos e executados em nome do rei”. Como se verifica, a existência de verdadeiros juízes, com tanta corrupção – local e global -, depende sempre da sua honestidade, independência e probidade e não deve ser necessária a intervenção tentadora dum qualquer ditador. Como dizia o polímata brasileiro Ruy Barbosa “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”. Já os Milagres na Terra dependem da Fé de cada um. E obrigadoS a Deus pelo último.
Autor: Gonçalo S. de Mello Bandeira