“Coitadinhos…”, dizem os invejosos admirados. De facto, tanto o SNESup-Sindicato Nacional do Ensino Superior, como SPN-Sindicato dos Professores do Norte (FENPROF), entre outras organizações nacionais e internacionais, têm sido notáveis. Mas ainda há muita pedra a partir. É inadmissível estar a dizer que “os sindicalistas prejudicam as instituições” ou que “este ou aquele dirigente sindical, quando está a noticiar casos de injustiça e a criticar o que tem que ser criticado, está a prejudicar a instituição X”.
Estamos a nos referir aos sindicalistas do Ensino Superior. Mas, evidente, colocamos também aqui os sindicalistas de todas as profissões que, de boa fé e honestidade, sem abusos do direito (art. 334º Código Civil), destituídos de inveja entre profissões, por vezes derivadas de frustrações pessoais, pois todos são importantes, têm uma profunda preocupação pelo aprofundamento do chamado Estado, rectius espaço e tempo, de Direito social, democrático, livre e verdadeiro.
Ou não fossem eles, os de boa fé, os genuínos – porque também há aqueles que não a têm –, verdadeiros contributos vivos para uma sociedade mais iluminada, mais justa, mais científica, menos obscura, com mais paz e amor.
Desde logo, não concedemos a ciência, em última instância, sem prejudicar a legítima defesa, sem preocupações humanistas conjugadas com o respeito pelo meio ambiente ecológico, consumo, efectiva distribuição da riqueza pública e privada, etc.. O humanismo como um fim em si mesmo.
Enfim, a revolução histórica contínua, com respeito mútuo, que deve ser económica, social, política, cultural, mental, libertando o ser humano duma desdita cruel e tortuosa. Onde, com nitidez, a felicidade simplesmente não existe. Porque afinal, o viver, se trataria duma mera sucessão de momentos bons e maus, esperando que assim os momentos bons superem os maus. Mas tudo culminando na morte. De cujo resultado, surgirá a fé na ressurreição para uns em ascese e o nada para outros.
Mas é precisamente a ciência que – aliada ou não à fé em respeito à liberdade de crença e/ou de respeito pelo agnosticismo -, nos poderá dar a solução à pergunta mágica de Thomas Mann: “Será que dessa festa da morte, dessa perniciosa febre que incendeia à nossa volta o Céu desta noite chuvosa, também o amor surgirá um dia?” (trad. Herbert Caro, e Maria da Graça Fernandes, Ed. Livros do Brasil, Lisboa).
Bem, voltando à questão de hoje, o que seria da maioria esmagadora dos docentes e investigadores do ensino superior sem o trabalho dos sindicatos? Veja-se o que se fez nos regimes transitórios da carreira docente, sistema universitário e politécnico (o que, como já referimos noutra publicação, se poderia também chamar universitário-politécnico, não deixando de ter as suas características próprias).
E a questão do estímulo ao emprego científico? E o problema da agregação? Uma coisa é certa, é profundamente injusto, do ponto de vista da democracia económica e social, não tratar todos os trabalhadores do Estado de modo igual. Procurando sempre reflexos positivos no privado. Ou seja, não tem sentido estar a premiar determinadas profissões quando, por outro lado, se prejudica outras. Todos os chamados “funcionários públicos” e afins do sistema público devem ser vistos como um todo.
Ou os aumentos e alterações nas carreiras profissionais são vistas como um todo - sem privilegiar ninguém, sejam eles Magistrados, enfermeiros, polícias, militares, professores de qualquer grau de ensino, médicos, deputados (pasme-se: partidos políticos ou até bancos!) -, incluindo a questão do salário mínimo, mas também a questão do desemprego e dos excluídos, ou estaremos a caminhar para uma sociedade na qual os ricos serão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, cavando uma sepultura para a própria democracia. Basta ver os números do Banco Mundial, a pobreza mundial é extrema. Daí somente poderão nascer pessoas radicais porque injustiçadas.
Autor: Gonçalo S. de Mello Bandeira