Esta semana o diretor do jornal “A Bola”, Vítor Serpa, num editorial, referia-se a um clube do norte com expressões, de alguma forma, depreciativas, definindo-o como um clube de “dimensão regional e até provinciana”, apesar dos seus resultados nacionais e internacionais de relevo. E eu digo, a sensação de pertença a uma região, a um país, é um sentimento muito nobre.
Eu tenho muito orgulho em ser português, de ser nortenho, de ser minhoto, de ser bracarense. Isto não tem nada de “provinciano”. Porque “ser provinciano” representa “alguém atrasado, de mau gosto, retrogrado, sem elegância” e há pouca coisa pior do que se sentir superior só pelo facto de ter nascido sob determinada condição. O respeito pelas origens, o orgulho de quem somos e o respeito por toda uma identidade, deve-nos, apenas, encher de orgulho.
O grande mérito de um povo não pode estar no que “tem” mas, fundamentalmente naquilo que “é”. Uma região/país é fruto das dinâmicas que institui, da sua história e do tipo de pessoas que a compõem.
A conjugação do ADN de uma região/país, a identidade de uma associação ou de clube/equipa são fatores determinantes para construir processos fortes, ambiciosos, de elevação e, eventualmente, com êxito.
Não estou a referir-me somente em vencer, mas, e acima de tudo, em estar nos momentos de decisão e discutir cada momento, cada jogo, cada campeonato até à última oportunidade, com propriedade, intensidade e caráter. Isso não tem nada de provinciano.
Nesta linha de ideia, esta semana a empresa Direnor, associada à Câmara Municipal de Celorico de Basto, com entrega dos prémios desportivos “O Minhoto” (22.ª edição) e perante um vasto número de convidados, celebraram o mérito, uma identidade, uma região. Foi um momento que comprova que uma região, que um País, pode orgulhosamente dizer quem é e o que vale.
Momento de celebração ao mérito e à identidade. Esta entrega de prémios releva que, apesar das rivalidades, existem mais coisas que nos unem do que nos separam. Podemos, eventualmente, não concordar com as nomeações ou com os eleitos, mas existe um aspeto que todos devemos respeitar: o mérito.
Nesta festa aconteceu um pequeno episódio que gostava de o realçar. A entrada dos convidados, como em qualquer evento desta índole, foi feita através de uma receção com a confirmação da presença, o que provocou uma pequena fila de acesso ao local do evento.
Precisamente atrás de mim, encontrava-se o presidente da edilidade de Celorico de Basto, Joaquim Mota, e, de uma forma digna e respeitosa, manteve-se como qualquer convidado, na fila. Todos nós entenderíamos que o anfitrião pudesse encontrar formas para contornar esta situação.
Este episódio releva o seu caráter, a formação e a educação. É, também, destes, pequenos, exemplos que se constrói uma identidade positiva de um povo. Outra situação que me despertou a atenção foi a quantidade de atletas do género feminino que foram eleitas nas várias categorias, que fazem parte da lista de 24 prémios individuais.
37% dos prémios individuais foram conquistados por atletas do género feminino, no entanto, somente em 8 dos prémios este género não esteve representado (entre os 3 nomeados em cada uma das categorias).
Este foi um evento eclético, inclusivo, de valorização e reconhecimento da excelência no desporto. A região do Minho sabe valorizar o trabalho, o suor, o mérito, e sabe bem, muito bem, receber “quem vier por bem”.
Autor: Carlos Dias
Afinal quem são os provincianos?

DM
15 março 2019