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É sabido que todos os sectores de actividade regrediram – e muito – desde o início da pandemia.
Todos? Pelos vistos, nem todos. Há quem não tenha sido afectado pela pandemia, vendo até crescer os seus ganhos.
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É o caso da indústria do armamento, cujos lucros aumentaram significativamente.
Segundo o «Stockholm International Peace Research Institute», a venda de armas dos cem maiores fabricantes totalizaram 531 mil milhões de dólares em 2020. Ou seja, mais 1,3% do que em 2019, o último ano anterior à propagação da COVID.
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Haverá quem alegue que se trata de uma «indústria» que nos protege. A realidade, porém, encarrega-se de mostrar – insofismavelmente –que esta é também a «indústria» que nos ameaça e vai eliminando.
A pretexto da defesa e da segurança, são muitos os que tombam à conta de uma «indústria» tão «próspera».
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Para nosso pesar, continua a haver mais meios para matar a vida do que para cuidar da vida.
Em suma, não estamos a apreender as assustadoras lições desta hora grave da história. Como se não bastassem os danos provocados pela natureza, ainda temos os atropelos que os homens cometem contra os homens.
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Dizem que a natureza não perdoa nunca. Mas será que nós, humanos, perdoamos como deveríamos? Os factos depõem com cruel eloquência.
Às vezes, falta-nos coragem para ter medo, ainda que o medo não faça bem. Mas, em certas alturas, pode ajudar-nos a evitar o pior. E neste momento – alertava Alexandre O’Neill –, algum medo até pode «salvar-nos da loucura».
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Perante a «guerra» que nos foi movida pela natureza, uma dose desvairada de loucura atrai-nos para conflitos que nos impelem para o abismo.
E a verdade é que o precipício já esteve mais longe. Ainda conseguiremos impedir o colapso fatal?
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O Papa Francisco – na sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2022 –propõe um caminho longo: «educação, trabalho e diálogo entre as gerações».
Se, entretanto, esse caminho começar já, não será impossível inverter a marcha do mundo e o rumo dos acontecimentos.
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Como sugeria Charles Dickens, é urgente «ir abrindo os nossos fechados corações». E perceber que o outro – seja ele quem for – não é um adversário, mas um irmão.
O impulso da dominação tem de dar lugar ao «princípio da empatia».
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A sabedoria ubuntu oferece-nos uma máxima que jamais haveríamos de esquecer: «Eu sou porque tu és».
Eis como, numa sociedade global, esta poderia ser uma lei universal.
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Pouco somos sem os outros e nada somos contra os outros. Existimos não só com os outros, mas também por causa dos outros.
Aprendamos, então, a sermos «gémeos» de todas as pessoas!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira