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Afinal, nem todos perdem com a pandemia

  1. É sabido que todos os sectores de actividade regrediram – e muito – desde o início da pandemia.

Todos? Pelos vistos, nem todos. Há quem não tenha sido afectado pela pandemia, vendo até crescer os seus ganhos.

  1. É o caso da indústria do armamento, cujos lucros aumentaram significativamente.

Segundo o «Stockholm International Peace Research Institute», a venda de armas dos cem maiores fabricantes totalizaram 531 mil milhões de dólares em 2020. Ou seja, mais 1,3% do que em 2019, o último ano anterior à propagação da COVID.

  1. Haverá quem alegue que se trata de uma «indústria» que nos protege. A realidade, porém, encarrega-se de mostrar – insofismavelmente –que esta é também a «indústria» que nos ameaça e vai eliminando.

A pretexto da defesa e da segurança, são muitos os que tombam à conta de uma «indústria» tão «próspera».

  1. Para nosso pesar, continua a haver mais meios para matar a vida do que para cuidar da vida.

Em suma, não estamos a apreender as assustadoras lições desta hora grave da história. Como se não bastassem os danos provocados pela natureza, ainda temos os atropelos que os homens cometem contra os homens.

  1. Dizem que a natureza não perdoa nunca. Mas será que nós, humanos, perdoamos como deveríamos? Os factos depõem com cruel eloquência.

Às vezes, falta-nos coragem para ter medo, ainda que o medo não faça bem. Mas, em certas alturas, pode ajudar-nos a evitar o pior. E neste momento – alertava Alexandre O’Neill –, algum medo até pode «salvar-nos da loucura».

  1. Perante a «guerra» que nos foi movida pela natureza, uma dose desvairada de loucura atrai-nos para conflitos que nos impelem para o abismo.

E a verdade é que o precipício já esteve mais longe. Ainda conseguiremos impedir o colapso fatal?

  1. O Papa Francisco – na sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2022 –propõe um caminho longo: «educação, trabalho e diálogo entre as gerações».

Se, entretanto, esse caminho começar já, não será impossível inverter a marcha do mundo e o rumo dos acontecimentos.

  1. Como sugeria Charles Dickens, é urgente «ir abrindo os nossos fechados corações». E perceber que o outro – seja ele quem for – não é um adversário, mas um irmão.

O impulso da dominação tem de dar lugar ao «princípio da empatia».

  1. A sabedoria ubuntu oferece-nos uma máxima que jamais haveríamos de esquecer: «Eu sou porque tu és».

Eis como, numa sociedade global, esta poderia ser uma lei universal.

  1. Pouco somos sem os outros e nada somos contra os outros. Existimos não só com os outros, mas também por causa dos outros.

Aprendamos, então, a sermos «gémeos» de todas as pessoas!


Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
DM

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28 dezembro 2021