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Adubai

Pese embora se trate de um elemento químico absolutamente necessário à vida, as plantas dificilmente conseguem utilizá-lo na forma gasosa mais frequente (molécula com dois átomos fortemente unidos), motivo pelo qual o desenvolvimento da agricultura impulsionou uma procura cada vez maior de adubos azotados. Inicialmente, estes fertilizantes eram obtidos a partir de fontes naturais, como os excrementos das aves marinhas (guano) muito ricos naquele elemento.

Ainda no que respeita a fontes naturais, a exploração das minas de salitre da América do Sul, ricas em nitratos de sódio e de potássio, veio dar resposta à procura crescente de adubos e de explosivos – sim, os nitratos servem também para o fabrico de explosivos. Desses tempos restam-nos algumas memórias – decerto já repararam, ao circular pelas nossas estradas nacionais, num logótipo de cavaleiro e sua montada, impresso em painéis publicitários em azulejo e acompanhado da frase: “Adubai com nitrato do nitrato do Chile”. O nitrato do Chile foi, a partir dos idos anos 20, uma marca de adubo com forte expansão ibérica.

Entretanto, o génio industrial alemão tinha já desenvolvido um processo revolucionário de síntese de amoníaco. Esse processo (designado síntese de Haber-Bosch, em homenagem aos cientistas que o inventaram e industrializaram) foi usado em larga escala na primeira guerra mundial, em resultado do bloqueio imposto aos alemães, no acesso à matéria-prima até aí proveniente da mineração chilena. Com esta nova origem industrial, os derivados do amoníaco, entre eles o nitrato de amónio, tornaram-se a principal fonte de adubos azotados.

E como fui eu lembrar-me, por estes dias, do azoto? Simples: ao ver a previsão de trovoadas para este fim-de-semana. Aquilo a que chamamos fixação do azoto (transformação do azoto gasoso noutras formas mais assimiláveis pelas plantas) pode ocorrer de forma natural. Um exemplo há muito conhecido dos agricultores é a fixação realizada pelas bactérias que vivem em simbiose nas raízes das leguminosas. Outra forma de fixação é a que acontece com o auxílio das enormes quantidades de energia proveniente das descargas eléctricas dos relâmpagos. Esta energia promove as reacções que transformam o azoto molecular atmosférico em óxidos de azoto.

Será que lá na terra do deus dos trovões já é altura de adubar?

 

Autor: Fernanda Lobo Gonçalves
DM

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5 fevereiro 2017