A infância humana – diz-se – é uma “idade esponja”, um período da nossa vida aberta a receber os estímulos que lhes fornecem os seus educadores – habitualmente são os pais – com uma capacidade de recepção muito ampla. Não é que não sejam também críticos, por vezes, mas têm abertura para encaixar o que lhes é ensinado dum modo pacífico e acolhedor. E é natural que assim seja, porque o que absorvem são novidades, para as quais não têm pontos de referência pessoais consistentes. Estas apresentam-se sempre boas e bastante evidentes, principalmente se quem as comunica manifesta por eles o melhor elo de ligação entre os seres humanos – o amor –, fonte de confiança e de afabilidade, de ternura e de compreensão. Pode haver protestos e até birras. Mas tudo acaba bem, porque o pai ou a mãe são os amigos por excelência e a sua autoridade termina sempre por sobrepor-se às atitudes de rejeição.
Quando uma criança entra na adolescência, o quadro apresenta contornos bastante diferentes. De um modo geral, a rapariga é mais precoce do que o rapaz. Por isso, entre uma moça de 12 anos e um moço com a mesma idade, os sintomas surgem com mais exuberância nela do que nele. O que se passa então? A rapariga ou o rapaz deixam de ter uma consciência escancarada em relação ao que recebem do exterior. Dir-se-ia que nasceu na sua intimidade uma espécie de filtros de carácter variado, que fecham, ou talvez melhor, afunilem a abertura aos estímulos e como que os “cozinham”, no seu íntimo, com um material que não prima pelo rigor. Pelo contrário, o que receberam na infância como uma “esponja” que absorve gulosamente o que lhe é fornecido, começa a ser contestado, confusamente rejeitado e o que se assume é um misto complexo de incertezas e de dúvidas, que geram opiniões e conclusões peremptórias, como afirmação subjectiva da sua pessoa. Podem ser totalmente irreais e falhas de objectividade.
É muito frequente que um adolescente se sinta “diferente”. Tem um sentido crítico sobre o que é a realidade e tudo o que lhe transmitiram os pais durante a infância pacífica. Vive ainda em parte desse mundo, mas com uma atitude de insegurança, que o pode conduzir a uma rejeição radical, ou, pelo menos, conflituosa em relação ao que aprendeu. Tudo lhe parece obscuro e incerto. Sente necessidade de encontrar por si mesmo o que são e como são as coisas, pois já não bastam as “verdades” que os pais lhe ensinaram. Tem como norte orientador um sentido de que as referidas coisas devem ser de uma maneira – aquela que ele pensa como a melhor e, portanto, devem ser mesmo assim e não doutra forma. Com frequência, cai no desânimo e na abulia, porque o que ele determinou a respeito do mundo objectivo e do seu modo de comportar-se em nada se verificou. Esmorece a vontade, nasce a perplexidade. Não conseguiu fazer o que devia e como devia, segundo o seu entender. Falhou! A realidade demonstrou que não era o que ele julgava. Daí, tornar-se amarga e o seu fracasso deixa-o atónito. Afinal, é como os outros, não uma pessoa impoluta e madura que faz o que deve e pensa com realismo, mas um frangalho que não sai da “cepa torta”.
Procure-se a compreensão com os adolescentes. A sua etapa da vida é “diferente”. Eles mesmos assim o notam, como que embascados consigo mesmos e o universo que os circunda. A educação deve ter isto em conta. Que um rapaz ou uma rapariga tão obedientes e fáceis de convencer sejam agora rebeldes e até insolentes, não deve espantar. É um sintoma de normalidade. Dão mais trabalho, nervosismo e preocupação? Outro sintoma de normalidade. Educar requer exigência e compreensão. Mas, principalmente, paciência – a maior virtude do bom educador –, que aumenta de grau e de qualidade, quando se fundamenta no amor duma família sã.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva