Anoitecia o dia 26 de dezembro de 2016, quando nos chegou, seca e gélida, a notícia: “Faleceu o P. Cachadinha”. Fez, há pouco, 5 anos!
Filho de Domingos Alves e de Beatriz Gonçalves Cachadinha, o Padre António Cachadinha Alves nasceu a 18 de julho de 1931, em Nogueira, Viana do Castelo. Terminada a escola preparatória, rumou a Braga, ao Seminário Menor. Aí cresceu nas virtudes humanas, na ciência e na espiritualidade: sentado à secretária, a indagar os mistérios do mundo; e ajoelhado nos bancos da capela, a saborear os mistérios de Deus. Ao longo de doze anos, como o Menino Jesus, cresceu “em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2, 52).
Homem feito, sem deixar de ser menino (“todo o homem traz dentro de si o menino que foi” [A. Saint-Exupéry]), foi ordenado padre, no dia 15 de agosto de 1954. “Tomado de entre os homens e constituído em favor dos homens” (Hb 5, 1), a 6 de outubro desse ano, começou a trabalhar na função para que fora nomeado: membro da equipa formadora do Seminário Conciliar, onde assumiria as funções de Secretário. Com a criação do Instituto Superior de Teologia de Braga (ISTB), que em 1989 passou a Faculdade, assumiu também a secretaria desta instituição e aí permaneceu desde que o Seminário deixou o edifício da Rua de Santa Margarida e se instalou em Santiago.
Para além deste serviço, o Padre Cachadinha foi, durante muitos anos, Capelão das Servas de Jesus da Caridade. Foi também professor de História Universal, no Seminário Menor, onde o conheci, pelos remotos anos de 1981-1983, em que o tive como professor e pude constatar como um autodidata se transforma em mestre, quando estuda e ensina com paixão.
Quase não havia fim de semana que não rumasse à sua terra para estar com a família, com quem mantinha fortes laços afetivos. Consciente da sua identidade e missão, não se entregava à ociosidade, mas ajudava o seu pároco e outros que, no meio das muitas solicitações pastorais, reclamavam os seus serviços. Fazia-o com zelo e alegria, movido por um grande espírito de serviço e dedicação ao povo de Deus e aos colegas sacerdotes.
Na deslocação de Braga para Viana, passava sempre por Ponte de Lima, onde se detinha a apreciar os seus jardins e a contemplar o rio. Muitas vezes me confidenciou que esta era para si uma forma de descansar e um outro modo de rezar.
Foi o cargo de Secretário que lhe deu maior visibilidade e proximidade com milhares de alunos com quem lidou, de quem ficou amigo e de alguns até conselheiro e confidente. Além disso, são diversos os que testemunham a sua atenção para casos de dificuldade económica.
Como profissional, entregava-se à causa da Faculdade de Teologia, estabelecendo contactos, organizando processos e despachando documentos. Possuidor de uma memória prodigiosa, conhecia os dossiers em profundidade e falava deles com precisão. Era um secretário sério, competente e trabalhador, mas também um amigo fiel e dedicado. Atento aos problemas, dava um notável contributo em ordem à sua solução. Por vezes, dava a ideia de que gostava de pôr à prova quem dele se aproximava, mas quem lhe conhecia o temperamento sabia que, por detrás de um dia menos bom, se escondia e revelava um enorme coração. No meio de tantos afazeres, acolhia, escutava e servia, mantendo as portas abertas, muito para além da hora.
Conhecia os sacerdotes, os alunos e ex-alunos da Faculdade de Teologia pelo nome e até pelo ano do curso. Tinha para com todos uma palavra de estímulo e, quando necessário, não deixava de corrigir alguma situação que entendesse não estar bem. Não se furtava até a alguma intervenção crítica quando percebia, na sua lucidez e vetusta sabedoria, que tal se justificava e era necessário.
Homem discreto, não evitou a visibilidade a que o expunham as suas qualidades. Por isso, feito Monsenhor contra a sua vontade, nunca quis ser investido e, na simplicidade e humildade sinceras que o caraterizavam, nunca aceitou ser assim tratado.
A sua partida deixou-nos mais pobres, mas as qualidades, a forma de estar e os ensinamentos do Padre Cachadinha contribuíram para o enriquecimento humano, cultural e espiritual de todos nós. Agradecidos, prestamos-lhe esta singela homenagem, por altura do quinto aniversário do seu falecimento.
Autor: P. João Alberto Correia