1. Vivemos numa sociedade cada vez mais plural. Cresce a diversidade entre as pessoas. Diversidade manifestada nos atos que praticam, nas decisões que tomam, nas ideologias que professam, nos projetos de vida que propõem e defendem.
Que fazer? Rejeitar os que discordam? Dizer amém a tudo? Entendermo-nos uns com os outros não obstante os pontos de discordância?
Rejeitar as pessoas de quem discordamos pode levar a que se marginalizem e isolem. Na era da globalização não me parece caminho a seguir.
Concordar com tudo seria abdicar da própria personalidade.
O aconselhável, penso, é saber conviver (ou, pelo menos, coexistir) com a diversidade. Aceitarmo-nos como somos, sem andarmos em guerra uns contra os outros.
Diferentes que somos, estamos condenados a entendermo-nos. Esta é a realidade.
O facto de, numa atitude louvavelmente respeitosa, convivermos com pessoas de cujo comportamento discordamos não significa que as devamos imitar. É aceitando-nos como somos que a sã convivência se torna realidade.
2. Uma coisa é o que as pessoas são e outra, o que fazem. Todos têm a dignidade de seres humanos e, numa perspetiva cristã, de filhos de Deus. É dever nosso reconhecer essa dignidade e respeitá-la. Sejam quais forem os atos que pratiquem. Quem assume atitudes indignas de um ser humano nem por isso deixa de o ser.
Sublinho afirmações do Papa Francisco proferidas na Missa da meia noite de 24/25 de dezembro de 2019:
«O Natal lembra-nos que Deus continua a amar todo o homem, mesmo o pior.
Hoje diz a mim, a ti, a cada um de nós: ‘Amo-te e sempre te amarei; és precioso aos meus olhos’.
Deus não te ama porque pensas certo e te comportas bem; ama-te… e basta! O seu amor é incondicional, não depende de ti. Podes ter ideias erradas, podes tê-las combinado de todas as cores, mas o Senhor não desiste de te querer bem.
Quantas vezes pensamos que Deus é bom, se formos bons; e castiga-nos, se formos maus; mas não é assim! Nos nossos pecados, continua a amar-nos».
É um Deus assim que deve ser adorado, que deve ser amado, de cujo amor somos chamados a dar testemunho.
3. Os atos das pessoas, as suas opiniões e as suas decisões, podem ou não merecer a nossa concordância.
Mas há formas de discordar. Pode-se – e deve-se – discordar sem insultar, sem gritar, sem dar murros na mesa, sem cortar relações com as pessoas.
4. Não obstante as discordâncias há pontos de convergência que importa saber aproveitar e valorizar.
O padre Américo dizia não haver rapazes maus. E não há. Como não há homens maus. Em todas as pessoas existe algo de bom que é preciso descobrir. A questão reside em saber encontrar a ponta por onde se pega.
Volto à homilia do Papa Francisco:
«Nesta noite (de Natal), na beleza do amor de Deus redescobrimos também a nossa beleza, porque somos os amados de Deus.
No bem e no mal, na saúde e na doença, felizes ou tristes, sempre aparecemos lindos a seus olhos: não pelo que fazemos, mas pelo que somos.
Em nós, há uma beleza indelével, intangível; uma beleza incancelável, que é o núcleo do nosso ser».
Não obstante as legítimas divergências é imperioso darmo-nos as mãos e colaborarmos na construção de uma sociedade cada vez melhor: mais humana, mais justa, mais compreensiva e conciliadora.
Autor: Silva Araújo