A polémica estalou, há tempos, quando a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) marcou alguns jogos para o dia das eleições autárquicas do próximo Domingo, 1 de outubro; e, assim, entre os políticos e dirigentes partidários, logo funda discordância se estabelece relativamente à questão, posicionando-se uns rigorosamente contra e outros não vendo na decisão da FPF inconveniente de maior.
Ora, se falarmos em termos da abstenção às urnas que a medida possa provocar, que é o que efetivamente mais preocupa os políticos e dirigentes partidários, o facto de se realizarem tais jogos, nesse dia, contribui para que ela aumente; basta pensarmos nos adeptos que tenham de se deslocar do norte para sul ou vice-versa, por exemplo, para constatarmos que dificilmente podem votar; agora, se falarmos em termos de uma votação consciente, serena e ponderada, então, outro é o busílis da questão.
Todos sabemos que os políticos e dirigentes partidários se preocupam, embora pouco ou não vão fazendo, com a abstenção que sucessivamente vem aumentando nos atos eleitorais; e numa análise sumária concluímos que isto acontece porque os eleitores não acreditam nas suas promessas, projetos e mensagens o que é, sem dúvida, a maior das frustrações para quem tanto labuta e luta para os fazer passar.
Mas, na verdade, um eleitorado responsável, consciente autónomo e livre, embora tendo outros meios de se fazer ouvir e ser respeitado, votando branco ou nulo, por exemplo, opta pelo mais simples que é virar as costas, abstendo-se, a quem se lhe apresenta senhor de pouca autenticidade, credibilidade e verdade; ademais, o fenómeno das candidaturas independentes que, de eleição em eleição, vai crescendo preocupa os políticos e dirigentes partidários, e, como tal, não as podendo impedir, as vão desvalorizando e renegando; porém elas vêm dar algumas respostas e esperanças às dúvidas, interrogações e preocupações de grande número de leitores abstencionistas.
Pois bem, muitos destes constrangimentos podem ter solução e obter respostas positivas se introduzirmos mudanças na forma de votar; por exemplo, porque não votar em qualquer dia da semana ou, melhor ainda, fazendo uso do voto eletrónico, como acontece já em muitos países? Penso que seria uma forma de diminuir a abstenção, quando ela resulta de dificuldades várias que se põem aos eleitores.
Agora, culpar o futebol, a ida à praia ou a festa da aldeia como sendo responsáveis pela abstenção eleitoral, não passa de desculpas de mau pagador; porque a um eleitorado responsável que sabe o que quer e para onde quer ir não são estes factos comezinhos que o vão desviar de seu dever cívico de votar.
Por isso, o que os políticos e dirigentes partidários devem fazer, e não têm feito, é esclarecer, mobilizar e motivar o eleitorado, deixando-se de populismos, demagogias, mentiras e folclore; e, sobretudo, sendo modelos e exemplos de competência, fiabilidade, honestidade e verdade, quer em épocas eleitorais, quer na prática política diária.
É que o prosseguimento e insistência neste paradigma e prática políticos a todos deve preocupar pelas consequências nefastas que acarretam, mormente o descrédito, a má fama e o desprezo em que caiu a classe política; e mais: se, um dia, a soma dos abstencionistas for superior à soma dos votantes, eu pergunto, o que irá acontecer? Isto é, quem vai governar e com que legitimidade e verdade?
Ou antes, o que faremos da Democracia que tantos sacrifícios, contrariedades e sobressaltos custou a tanta gente até a podermos alcançar e gozar?
Todavia, no próximo Domingo, vote, nem que seja branco ou nulo, só para que outros não escolham e decidam por si; porque a abstenção nunca foi nem é solução e mais não é do que um virar de costas aos problemas económicos, sociais e morais que grassam no país e a todos afligem.
Depois não diga, porque não votou, que não tem nada a ver com isso, que até nem votou neles.
Então até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado
Abstenção não é solução

DM
27 setembro 2017