Com a descida das temperaturas nestes últimos tempos senti-me tentada a fechar a bicicleta em casa até que o tempo ficasse mais quentinho.
Tal como a chuva, o frio é muitas vezes encarado como um inimigo, uma força a ser temida e afastada e muitos ciclistas são tentados a pendurar as bicicletas no Inverno.
Olhando à janela imaginava o desconforto que seria encarar o frio apenas nas minhas duas rodas. Mas o que acontecia é que saía à rua e ficava encantada com o dia luminoso de sol e arrependia-me de não ter trazido a bicicleta. Depois comecei a sentir uma espécie de alegria fértil em desejar aquilo de que me estava a esquivar ou a assumir para além da minha capacidade de suportar.
Foi então que, depois de me ter arrependido várias vezes, chegou o dia em que me preparei para enfrentar o frio junto com a minha bicicleta. Debaixo de um sol que tinha mais luz do que calor.
Descobri que o mais importante é vestir-se em camadas. Começar com uma camada de base, adicionar uma cama intermédia quente e terminar com uma camada externa à prova de vento ou chuva. E o mais importante cobrir as extremidades!
Aprendi que por muito tentador que seja vestir a roupa mais quente possível, não é muito inteligente fazê-lo uma vez que é diferente estar simplesmente parada no frio ou andar a pé e andar de bicicleta. Para que não começasse a transpirar passados 10 minutos da pedalada percebi que é melhor começar com a sensação de “ligeiramente mal vestida” e deixar que a bicicleta me aqueça. Deixar que os meus braços e pernas gerem o seu próprio calor através do trabalho dos seus músculos.
Andar de bicicleta no inverno pode ser um desafio, mas com o equipamento certo, uma bicicleta bem conservada, e uma atitude positiva, também pode ser altamente revigorante.
O frio restaura alguma da resiliência e sentido de auto-suficiência que os carros aquecidos e tecidos isolados nos tiram. O frio lembra-nos que somos fisicamente resistentes.
No verão vamos esquecer que alguma vez tivemos frio e no inverno questionamo-nos se alguma vez voltaremos a ter calor. Por isso é importante reconhecer o frio, respeitá-lo e aceitá-lo, mas não o temer.
Andar de bicicleta no frio tem mais a ver com temperamento do que temperatura, não se trata apenas de transporte, trata-se de nos empurrarmos para fora da nossa zona de conforto e provar para nós próprios que somos capazes mais do que pensávamos. É um teste de força de vontade e determinação que vem com um sentido de realização e capacitação.
Além disso, também nos pode ajudar a apreciar as coisas simples da vida. O calor de uma bebida quente ou de uma refeição quente após uma passeio no frio, a sensação do vento na cara pode ser uma experiência única e emocionante. A mim, ajuda-me a colocar as coisas em perspectiva e a prestar atenção às belezas do mundo.
Que o frio não nos deixe parados!
Autor: Sara da Costa