A viragem do ano significa um momento de balanço e retrospetiva. Às vezes, cruzamos com pessoas que nos marcam, acontecimentos que nos circunscrevem e momentos que nos definem, pelo que num ano inteiro, existem pessoas que se transformam em heróis e momentos que se transformam em história. Na verdade, não há guião que nos oriente a vida, pois, teimosamente, muitos dos nossos planos teimam em não se cumprir. Há esperança, há planos, há projetos, mas o nosso destino não está sempre nas nossas mãos. Não podemos controlar o futuro, por isso, devemos valorizar as lições do passado e, marcadamente, viver o presente.
2022, foi um ano altamente instável, marcado pela invasão da Rússia à Ucrânia, com fortes repercussões em todas as áreas. Mesmo assim, alguns atletas/ treinadores/ equipas nacionais, que pela sua prestação, merecem destaque: os títulos internacionais de Pedro Pichardo; o bicampeonato europeu de Portugal no futsal, com Jorge Braz ao leme; e os títulos do limiano Fernando Pimenta que reforçaram o estatuto de um dos “melhores de todos os tempos”. Este ano, Portugal perdeu algumas figuras proeminentes: dois heróis do futebol – Fernando Gomes (Bibota) e Fernando Chalana – e dois treinadores muito relevantes do basquetebol nacional – Herminio Barreto e Henrique Vieira.
A nível internacional, este foi o ano marcado por algumas despedidas dos palcos do alto nível, nomeadamente de duas figuras míticas do ténis mundial - Serena Williams e Roger Federer. O Mundial do Qatar foi o evento que marcou o final deste ano e talvez o futuro, pela importância de se realizar num país árabe, mas, acima de tudo, pelo que foi discutido antes e durante o próprio evento, em torno dos Direitos Humanos.
Também esta semana, a cidade de Braga perdeu uma das suas figuras desportivas e humanas, que na sua simplicidade, humanismo e perseverança, marcou várias pessoas que com ele se cruzaram. António Nogueira (Toni) foi um bracarense com um verdadeiro espirito desportista. Dedicou a sua vida à atividade física e Desporto, transformando-se num exemplo extraordinário de abnegação, dedicação e paixão pelo voleibol. O Toni personaliza o que de bom tem o Desporto: congregou sempre um espirito de coisas boas em seu redor, que levava a que todos dele gostassem e o respeitassem. Foi sempre um desportista com uma entrega desmedida ao treino, de sorriso fácil, de uma generosidade sentida, capaz de fazer o bem e respeitar quem com ele caminhava. Ligado ao voleibol, à corrida, à bicicleta, a sua vida sempre foi muito ativa, mas tudo isso eram apenas os cenários para cumprir uma missão: dar sempre o seu melhor, até ao fim. Foi isso que sempre cumpriu e foi dessa forma que terminou. Perdeu o jogo da vida, mas deu luta a uma doença macabra, rude e desgastante. Lutou muito, proporcionando-nos mais uma verdadeira lição para a vida: “Podemos perder, mas o adversário tem que suar para nos ganhar!... “
Apesar de não haver um guião, dentro do possível, desejo a todos um excelente ano de 2023.
Autor: Carlos Dias
A vida sem guião

DM
30 dezembro 2022