Num interessante artigo sobre jornalismo dos nossos dias publicado por Katherine Viner no jornal britânico “The Guardian”, de Julho passado, a autora manifesta que a tecnologia mediática tem uma tendência notória para destruir a verdade, nomeadamente no mundo do jornalismo.
Certamente que a grande preocupação de quem informa deve ser transmitir a verdade de um acontecimento. Para ser verdadeiro, o informador tem de procurar narrar o que de facto se passou. E de um modo tal que quem aceda à sua informação, possa, por si mesmo, formular uma juízo objectivo, independentemente da simpatia ou antipatia que sinta pelo evento narrado.
Não é fácil proceder assim. Se o meu clube ganha, que satisfação eu sinto! Os adeptos da equipa vencida não comungam da mesma alegria. E se eu tenho de informar, é natural que o que escrevo ou digo manifeste o meu contentamento, mesmo quando o resultado não foi de todo “justo”, tendo em conta o que os elementos da equipa contrária realizaram. Mas se quem informa é um “adversário”, pode lembrar não sei quantas grandes penalidades que ficaram por marcar, a má vontade do árbitro em não mostrar um cartão vermelho, em vez de um ténue amarelo, etc...
Este exemplo revela como nem sempre é fácil ser verdadeiro quando se informa, porque a paixão clubista se entranha com vigor nos sentimentos das pessoas e o informador ou jornalista – que é pessoa – pode deixar conduzir-se pelo que eles determinam de forma primária..
Mais grave é confundir a verdade que se publica com o que com frequência é exigido a um profissional da comunicação no dia a dia do seu trabalho. Não conheço como se encara este problema nas escolas de jornalismo. Devo dizer que, um dia, fiquei mal impressionado com uma jovem minha parente, aluna duma escola de informação, que, perante uma notícia publicada num jornal que depois foi desmentida a muito custo, confessava que não podia proceder doutra maneira quem a trouxe a público. Se o não fizesse, acrescentava, “perdia o seu trabalho, o seu ganha-pão com o qual ajuda a sustentar a sua família. E mal teve tempo para estudar o caso”.
O amor à verdade é o que deve nortear quem tem de informar. Outra bússola é negativa e imoral. No artigo que começámos por citar, observa-se, como uma realidade triste que é frequente a tendência para desvalorizar a verdade como tal, sobretudo nos meios de comunicação do mundo da tecnologia mediática, como ela lhes chamou. Por isso, “cada vez mais, acrescenta, o que conta como facto, é um mero ponto de vista que alguém sente ser verdadeiro”.
A comunicação social não tem por objectivo manipular, impor ou inventar a verdade, apresentando uma mera impressão, um simples sentimento ou paixão, como a norma que o leitor, ouvinte ou espectador deve aceitar como verdade. Não se ”impinge” a verdade, valha a expressão, apresentando o que alguém, com poder num meio de comunicação, exija que seja “verdade”. Isto é, pura e simplesmente, desonestidade, e sujeitar-se de forma mais ou menos cega ao que exigem as audiências, ao que agrada aos leitores, ao que interessa para favorecer um determinado grupo económico, social ou político, enfim, a critérios que, se é legítimo ter em conta, não podem ser únicos nem essenciais.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva